Em discurso durante encontro com líderes sindicais em São Paulo, na
noite desta quarta-feira 23, o ex-presidente Lula ressaltou que "não
podemos aceitar o ódio que está sendo destilado nesse País", criticou a
divulgação dos grampos com versas privadas suas e afirmou que irá
esperar "pacientemente" o desfecho sobre sua posse como ministro da Casa
Civil, que foi suspensa pelo STF.
"Não podemos aceitar o ódio que está sendo destilado no nosso País"
discursou Lula. "Não podemos nos dividir entre vermelhos e
verde-amarelos. Temos que nos dividir entre aqueles que querem o pobre
vá para a universidade, que o pobre saia da miséria, e os que não
querem", defendeu, no ato realizado na Casa de Portugal, região central
da capital paulista.
Sem citar a TV Globo, Lula indicou que parte desse ódio visto
atualmente no País é estimulada pela emissora. "Esse ódio criado nesse
país, nós sabemos todo dia quando ligamos a televisão. Não é nenhuma
dona de casa, nenhum trabalhador, nenhuma empregada doméstica [que
instiga o ódio]. Esse ódio é quase que um ódio ideológico. 'Ah, temos
que tirar a Dilma, temos que tirar o Lula'", completou, mencionando em
seguida o triplex de Paraty que seria da família Marinho.
Lula também disse estar "enojado" com setores de comunicação ao
criticar a divulgação de grampos de conversas particulares suas. "Eu
estou enojado com o comportamento de determinados setores de
comunicação", disse. "Mas não tem problema, eu não farei o jogo rasteiro
que eles faziam comigo. O tempo vai se encarregar de dizer quem estava
certo ou não. Eu só queria que eles tivessem profundo respeito",
completou.
Sobre a suspensão de sua posse como ministro, Lula ironizou a viagem
do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, para Portugal,
onde organizou um evento com os principais defensores do impeachment da
presidente Dilma Rousseff, como os senadores tucanos Aécio Neves e José
Serra, além do vice-presidente da República, Michel Temer. "O ministro
Gilmar me cassou e viajou para Portugal. Então vou esperar
pacientemente. Mas se enganam aqueles que pensam que eu só vou ajudar a
Dilma se eu for ministro", disse Lula.
O ex-presidente contou que já havia recebido um convite de Dilma para
ser ministro em agosto do ano passado, mas não havia aceitado. "Ela já
tinha me chamado em agosto do ano passado, eu não quis. Eu sei da
dificuldade de um ex-presidente conviver com um presidente no mesmo
espaço geográfico", afirmou. Em seguida, contou ter aceitado o novo
convite "para andar por esse país", entre outros planos.
No ato, as seis maiores centrais sindicais do País aprovaram um
manifesto contra o golpe e em apoio a Lula, que foi entregue ao
ex-presidente. São elas: CUT, UGT, CTB, Força Sindical, CSB e NCST.
Confira abaixo a íntegra do manifesto:
Garantir a democracia brasileira e o respeito à Constituição Cidadã Impeachment sem crime de responsabilidade é golpe
A ameaça de golpe de quem quer rasgar a Constituição está
aprofundando a recessão econômica e aumentando o desemprego no Brasil.
Estão em sério risco à democracia, os direitos da classe trabalhadora e a
soberania nacional.
Para fazer frente a esta conjuntura, nós, sindicalistas de
diferentes tendências sindicais, reunidos neste ato, manifestamos total
solidariedade à presidente Dilma Rousseff, legitimamente eleita pela
maioria do povo brasileiro, e ao companheiro e ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, e exigimos a imediata efetivação de sua posse como
ministro chefe da Casa Civil.
Expressamos a convicção de que Lula, na condição de maior líder
político e popular do país, merece e goza da plena confiança e
solidariedade dos dirigentes e da classe trabalhadora brasileira e irá
contribuir de forma decisiva para solucionar a crise política e
institucional que perturba o Brasil.
Somente a via democrática, sem subterfúgios ou à margem da
Constituição, poderá criar as condições para a retomada do crescimento e
a geração de empregos no país.
O momento requer unidade e demanda repúdio a atitudes
antidemocráticas que, a pretexto do combate à corrupção, resultaram no
suicídio de Getúlio Vargas, em 1954, e na deposição de João Goulart, em
1964.
Forjada sua liderança política no movimento sindical, Lula
exerceu um governo marcado por importantes conquistas da classe
trabalhadora e do povo, entre as quais cumpre destacar:
A política de valorização do salário mínimo;
O arquivamento do projeto de reforma trabalhista que estabelecia a prevalência do negociado sobre o legislado;
A legalização das centrais sindicais;
Os programas Bolsa Família e Minha Casa, Minha Vida
Com notória habilidade de negociação, Lula, como ministro-chefe
da Casa Civil, poderá dialogar com as diversas forças políticas do país,
o que reforçará a preservação das conquistas sociais dos últimos 13
anos. O ex-presidente poderá também dar sequência às propostas inscritas
no documento "Compromisso pelo Desenvolvimento", lançado por
sindicalistas e empresários em dezembro de 2015, como contribuição
efetiva para a retomada do crescimento econômico.
Por essas razões, dentre tantas outras que levaram ao
engrandecimento da nossa Nação, conclamamos a todos os cidadãos
brasileiros, sobretudo os trabalhadores, com serenidade e firmeza,
defenderem a nossa democracia, nossa Constituição e nossos direitos
sociais duramente conquistados.
São Paulo, 23 de março de 2016.
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