A editora Abril demitiu ontem o editor Gil Felisberto que fez
críticas, nas redes sociais, a um post em que a esposa do presidente da
empresa, Walter Longo, criticava nordestinos a atribuía à região
eventual fracasso no impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Em seguida, Felisberto enviou uma carta aberta a Walter Longo:
Caro Walter Longo,
Venho por meio desta carta aberta informar que hoje (12/05/2016) eu,
Gilvan Felisberto da Silva Filho, nordestino e filho de nordestinos, fui
demitido da editora Abril. Lá ocupava o cargo de editor de arte I do
núcleo digital da revista Exame. Mas na verdade meu trabalho era de
designer mesmo, pois fazia de tudo, layouts de matéria da revista
impressa, dos especiais e suas versões para tablets e smartphones.
Sempre respeitei a postura política da empresa. Embora afirmem que
esta seja imparcial, quem está lá dentro sabe de fato como as coisas
funcionam.
Voltando ao assunto da minha demissão. Um dia após publicar um
questionamento a um post no Facebook no qual sua esposa criticava a
postura de um nordestino em relação à manutenção da presidenta Dilma
Vana Rousseff em seu cargo, me pediram para chegar mais cedo. E assim
fui informado da demissão. O pretexto foi reestruturação.
O que me causou extrema estranheza foi estarmos prestes a começar a
maior edição de um título da Exame, o Maiores e Melhores, que tem cerca
de 400 páginas (em média), com uma equipe extremamente reduzida. Fora
isso, ainda tínhamos de cuidar da edição periódica da revista Exame.
Estavam sendo procurados freelancers para ajudar nesta demanda.
Aceito qualquer que tenha sido o motivo real da minha demissão,
honestamente. O que não posso aceitar é que uma pessoa, esposa de um
presidente de uma empresa como a editora Abril, use sua rede social para
denegrir e/ou ofender um povo que sempre lutou pelo país.
Uma pessoa que casa com um presidente de uma empresa como a editora
Abril não pode ignorar, nem deve (até porque ela deve ter estudado
história na escola), que o Nordeste carregou o Brasil por séculos nas
costas. Mas tudo bem, digamos que ninguém seja obrigado a saber disso.
Mesmo assim ela, volto a repetir, esposa do presidente de uma empresa
como a editora Abril, tem que saber que o povo nordestino é quem também
garante o salário do seu marido.
Até me sinto um pouco envergonhado por eu — um mero designer, que não
tem nada no meu nome, nenhum imóvel, carro — precisar dizer que cada
ser humano que existe no nosso planeta tem o direito de ser respeitado,
independentemente de raça, credo, cor, origem e por aí vai.
Pois, meu caro Longo, deixo aqui registrada a minha indignação.
Embora não faça mais parte do quadro de funcionários da editora Abril,
quero cobrar (por mim e pelo meu povo) qual a postura da empresa em
relação ao comentário de sua mulher. Quero também saber até que ponto
isso se reflete na política da Abril, levando-se em consideração que
existem muitos nordestinos que ainda trabalham nesta empresa.
O que o senhor falaria para eles agora, depois de tudo isso?
Muito obrigado e sucesso!
Gilvan Felisberto da Silva Filho
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