Neste Primeiro de Maio, a
presidente Dilma, primeira mulher eleita presidente da República, fez
um discurso que ficará guardado como um importante registro histórico de
um dos momentos mais tristes da história do Brasil.
Ao que
tudo indica, no próximo 11 de maio, ela deve ser afastada do poder por
um Congresso corrupto, sem ter cometido crime de responsabilidade.
Mesmo que seja esse o desfecho, ela fez um discurso histórico, em que merecem destaque alguns pontos:
1) o golpe fere não só a democracia, como direitos trabalhistas, que, em breve, serão suprimidos.
2) grande parte da crise
econômica atual se deve à sabotagem de um Congresso, liderado por
Eduardo Cunha, que apostou no 'quanto pior, melhor', provocando recessão
e desemprego.
3) a luta, agora, é mais ampla: em defesa não só da democracia, como das conquistas sociais dos últimos anos.
4) se a elite brasileira é
capaz de tomar o poder à força, suprimindo direitos de uma presidente
legitimamente eleita, o que fará com o cidadão ou a cidadã anônima?
Leia, abaixo, texto de Fernando Brito, editor do Tijolaço, e assista o discurso:
Se Dilma falasse sempre as verdades como as disse hoje não haveria golpe
Por Fernando Brito, editor do Tijolaço
Deu gosto e desgosto ouvir o discurso de Dilma, hoje, no Vale do Anhangabaú.
Deu gosto ver ali a
mulher que já dividiu comigo, quando ambos fomos do PDT, brizolistas, a
fé em que o povo, quando pode perceber claramente a verdade, não precisa
que o guiem, sabe onde ir.
Gente que não era só de
esquerda – e nem de esquerda era, para muito “punho de renda” arrogante –
mas era antes apaixonada por seu povo.
Gente que falava uma
língua que o povo entender, que nessa língua não tinha papas e que no
que dizia tinha um lado, claro, límpido, transparente, evidente.
A força deste discurso, o
espírito que se apossa de nós quando somos intérpretes da História é
tão poderoso que até nossas próprias limitações oratórias desaparecem,
os gaguejos são escorraçados pela fluidez das ideias, as vacilações se
vão, tangidas pela certeza e pela convicção.
Não precisou sequer ter Lula ao lado, para traduzi-la ao povão.
Bastou-se, mergulhada no
fervente borbulhar da história e, na linguagem campeira, meteu os peitos
na porteira e foi rompendo os que os, perdoem, cagões prudentes acham
bom por de cerca nos nossos próprios pensamentos.
Deu gosto ver uma Dilma
de coração valente, que entendeu que a única força com quem um
governante popular pode contar, mesmo na pior das tempestades, é aquela
parcela da população que, de tanto sofrer e perder ao longo de gerações,
tornou-se invulnerável ao sofisticado discurso do inimigo.
Os tão badalados
reajustes do Bolsa Família, quase serão usados como exemplo de "farra
fiscal" pelos canalhas – que farra, hein, de R$ 15! Pagam três dúzias de
ovos ou um quilo de músculo ou acém! – são uma miséria que só pode
escandalizar quem tem a barriga cheia e já estavam mais que previstos.
E o que vão dizer do
índice de 9% estes canalhas, que haviam proposto e aprovado 16,8% no
Orçamento, forçando a Presidente a vetá-los?
E se tudo isso me deu gosto, o que desgosto deu?
Deu desgosto que tenha
sido preciso sofrer tanto na mãos dos falsos, dos inimigos, dos
traidores, da gente que não pode nem quer falar assim ao povo brasileiro
para descobrir aquilo que já se deveria saber: que é no meio deste
povo, falando a ele de peito aberto, dizendo as verdades de forma crua e
compreensível que está a nossa força, está o que nos faz invencíveis.
O lugar para onde vamos,
quando estamos fracos, é o que sabemos que nos fortalece. O meio do
povo, a língua do povo, as dores do povo são nossa seiva, o que não nos
deixa secar, murchar, o que faz o nosso viço não ser fugaz como o de
flores num jarro, mas perene como num campo.
Não costumo fazer isso,
nem tenho procuração do além, mas sei que o velho Brizola, depois do teu
discurso, te daria uma abraço daqueles que quebrar costela.
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