Queda de Cunha marca o fim de uma era no País

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A decisão inédita do Supremo Tribunal Federal sobre o afastamento do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que perdeu não só a presidência da Câmara como o próprio mandato, é o retrato da grande transformação vivida pelo sistema representativo brasileiro, que hoje enfrenta sua metástase, com praticamente todas as células apodrecidas.
Cunha, mais do que qualquer outro personagem, representa o estrago que o financiamento privado pode fazer num organismo político. Envolvido numa miríade de escândalos, o deputado não arrecadava milhões das empresas apenas para suas próprias campanhas e para as férias da família na Europa. Ao que tudo indica, ele também financiava dezenas de parlamentares, do baixo, do médio e do alto clero, construindo assim sua influência. Cunha tinha uma bancada própria, que a ele batia continência e prestava lealdade. E graças a essa força, ele ocupava espaços de poder no Executivo. Foi essa mesma bancada, por ele financiada, que o levou à presidência da Câmara.
De certa forma, o fim da era Cunha é a consequência direta de uma outra decisão recente do STF, que vedou o financiamento empresarial em campanhas políticas. Afinal, não faria nenhum sentido que, após todo o trauma vivido pela sociedade brasileira nos últimos anos, o Supremo permitisse que Cunha, num novo governo, articulasse o renascimento da fênix das doações de empresas – o que, certamente, seria uma de suas prioridades.
Na última semana, antes mesmo da queda de Cunha, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, também abriu sua metralhadora, disparando denúncias contra lideranças de todos os partidos. É chegado o momento, agora, de um mínimo de diálogo para que os atores políticos que sobreviveram à tempestade construam um novo modelo para a democracia representativa no País. Ou seja: que façam a verdadeira reforma política.

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