Todo mundo que tem vergonha na cara sabe que a corrupção não tem
partido e que o PT está pagando sozinho uma dívida que é de todos os
partidos. Afinal, políticos de todos os partidos vêm sendo denunciados
por empresários picaretas que corrompem o Estado há décadas, subornando
Executivo, Legislativo e Judiciário em nível federal, estadual e
municipal.
Para as pessoas decentes e responsáveis, portanto, não constitui
novidade alguma que mais um tucano tenha sofrido acusação tão ou mais
grave do que as que pesam contra quaisquer petistas e que essa acusação
(reiterada) não receba da mídia tratamento sequer parecido com o que é
dado a estes.
Nesse aspecto, a denúncia feita pela Folha de S. Paulo em agosto e agora reiterada pelo
jornal, de que Serra recebeu propina da Odebrecht, soma-se a denúncias
iguais contra outros tucanos – FHC, Alckmin, Aécio – que ocorrem sempre
mas que não se tornam de conhecimento público porque ficam restritas ao
único veículo da grande mídia que faz denúncias contra caciques do PSDB:
à Folha.
E ninguém lê a Folha. Ou o Estadão. Ou a Veja. As denúncias deles só
têm repercussão quando vão para o Jornal Nacional. E o Jornal Nacional
não denuncia tucanos graúdos. No máximo, um Aécio. Serra, Alckmin e FHC
são os políticos mais blindados do Brasil.
A matéria da Folha em questão decorre de planilhas apreendidas pela
Polícia Federal na casa de um ex-executivo da Odebrecht em março deste
ano. Essas planilhas listaram possíveis repasses a pelo menos 316
políticos de 24 partidos. Ecumênica, a lista da empreiteira aumentou a
tensão ao tragar governistas e oposicionistas –muitos deles integrantes
da tropa de choque que votaria o impeachment de Dilma – para o centro da
Lava Jato.
Quem tiver curiosidade em saber que nomes apareceram na lista só tem que clicar aqui para ver.
O material foi apreendido em fevereiro com o então presidente da
Odebrecht Infraestrutura, Benedicto Barbosa Silva Júnior, no Rio,
durante a fase Acarajé da Lava Jato. Os documentos se tornaram públicos
em março.
O Jornal Nacional não divulgou os nomes da lista afirmando que “não
haveria tempo” para divulgar “200 nomes” de envolvidos. Mas haveria,
sim. Demoraria 15 ou 20 minutos. Para atacar o PT durante campanhas
eleitorais o Jornal Nacional já usou tempo maior em uma única matéria.
Imediatamente após a censura da Globo, Sergio Moro decidiu colocar o inquérito sob sigilo.
Mas que não exaltem muito a Folha por esse furo de reportagem porque o
jornal está apenas sendo esperto, pois, apesar do antipetismo, pode se
dar ao luxo de posar como único veículo “isento” do país, já que os
outros grandes grupos de mídia (Globo, Estado, Abril) até podem noticiar
sua denúncia em algum cantinho de seus portais ou veículos impressos,
mas jamais produziriam matérias como a do jornal da família Frias contra
um tucano tão graúdo.
A Folha se tornou o maior jornal do país graças à burrice da
concorrência, que pratica um antipetismo suicida, desabrido,
escancarado, enquanto blinda os adversários do PT.
A imagem desses veículos entre quem pensa e pode ou não ser de
esquerda, desaba. Nos círculos sérios, ninguém leva a sério uma Veja, um
Estadão ou uma Globo justamente porque blindam descaradamente os
tucanos graúdos.
O resultado é que a Folha pode se arrogar o título de único órgão de
imprensa isento, ainda que isso esteja longe da verdade devido ao volume
de antipetismo ser muito maior do que as reportagens e opiniões
desfavoráveis para o PSDB, o xodó da mídia do eixo São Paulo-Rio.
Ao fim de sua segunda reportagem sobre os 23 milhões de propina a
Serra (que, em valores atualizados, agora são 36), porém, o jornal dos
Frias tenta esfriar a denúncia contra o grão-tucano informando que “(…) Nas
conversas preliminares da Lava Jato com a Odebrecht, além de Serra,
vários políticos foram mencionados, entre eles o presidente Michel
Temer, os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff, governadores e
parlamentares.”
Ah, então, tá.
Mas se todos estão envolvidos da mesma forma, o tratamento a todos é
dado da mesma forma pela mídia, pela Justiça, pelo Ministério Público,
pela Polícia Federal?
Alguém aí teria a cara-de-pau de dizer isso, que mídia e autoridades
tratam igualmente tucanos e petistas acusados da mesma forma?
Provavelmente aparecerá algum desavergonhado para afirmar tal
enormidade, mas todos sabem que é mentira.
A relação de Dilma com a Odebrecht e outras empreiteiras gerou
processo do PSDB contra a ex-presidente no TSE, afirmando que as doações
que ela recebeu das empresas foram produto de propina. A mídia trata as
doações das empreiteiras a Dilma como propina. Vaccari está preso por
isso. Palocci também. Mantega quase foi preso por isso.
E quanto à propina que a delação da Odebrecht diz que pagou a Serra e
a Alckmin? Os tesoureiros das campanhas eleitorais desses dois foram
presos? Aliás, alguém investigou? Quem foi que comprou a tese criminosa
de que as doações legais ao PT são propina e as doações legais ao PSDB
são… legais?
Quanto a Lula, nem se fala. É ocioso falar. Lula já foi até conduzido
coercitivamente por muito menos do que pesa contra um Serra ou um
Aécio, reiteradamente acusados por delatores. Mas sem investigação fica
difícil. E as denúncias se sucedem e não são investigadas. Até porque, à
exceção da folha, a mídia não pressiona por investigações contra
tucanos.
A razão é muito simples: hoje o Brasil é governado por uma aliança
entre a Globo, a Lava Jato, o PSDB e parte do Supremo. Assim, podemos
todos ter certeza de que a denúncia da Odebrecht contra Serra vai para
as calendas enquanto o mesmo Serra e seu partido continuarão acusando
petistas de terem sido acusados pela Odebrecht…
Alguém discorda?
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