O voto ainda tem algum
valor no Brasil? Depois que o 54 milhões de votos concedidos à
presidente Dilma Rousseff foram rasgados pelo golpe parlamentar de 2016,
a resposta, claramente, é não. Outra prova da desvalorização do voto
foi a abstenção de 32,5% dos brasileiros nas eleições municipais – o que
fez com que vários prefeitos tivessem menos eleitores do que a soma de
brancos, nulos e abstenções.
Diante desse cenário, o
presidente Michel Temer, que chegou ao poder após apoiar uma conspiração
política contra sua companheira de chapa, pregou o voto facultativo em
entrevista à jornalista Mariana Godoy.
"Talvez seja preciso
fazer mesmo uma reforma política, e na reforma vai entrar em pauta o
chamado voto obrigatório, e o voto facultativo. Talvez fosse o caso de
começar a examinar a hipótese do voto facultativo. Quer votar, vota. Não
quer, não vota. Evidentemente que isso precisa vir acompanhado de uma
pregação da cidadania", disse ele.
"Eu acho que há
naturalmente um mal-estar com a classe política, e o mal-estar com a
classe gera as mais variadas críticas. E, às vezes, a crítica vem pelo
silêncio. Isso nos leva a uma reformulação da política no país e à
compreensão da classe política de que algo está errado", prosseguiu.
Temer também defendeu o
parlamentarismo, regime que foi imposto à força por ele e seus aliados
em 2016 – uma vez que Dilma foi afastada apenas porque perdeu uma
maioria parlamentar ocasional.
"Eu acho que é possível
discutir o parlamentarismo. Há muitos agentes políticos que são
parlamentaristas. É possível discutir numa reforma política. O
impedimento [da ex-presidente Dilma Rousseff] foi traumático. No
parlamentarismo não. Se acontecer um desastre no governo, você muda o
governo", afirmou Temer.
O impeachment foi
traumático por uma única razão: o Brasil escolheu, por meio de sua
população, ser presidencialista. E como a mudança de governo se deu sem
crime de responsabilidade, o que ocorre foi um golpe parlamentar – e não
um processo legítimo de impeachment.
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