Quaisquer que tenham sido as causas do desastre aéreo que matou Teori
Zavascki e outras quatro pessoas na última quinta-feira, uma coisa é
certa: uma parcela expressiva da população brasileira jamais se
convencerá de que foi um simples acidente, uma vez que o ministro estava
prestes a homologar as delações da Odebrecht num dos maiores escândalos
de corrupção da história, com potencial para implodir toda a elite
política brasileira.
Por isso mesmo, o governo Michel Temer agiria bem se não demonstrasse
pressa em indicar um sucessor para a vaga, deixando que o próprio
Supremo Tribunal Federal escolha ou sorteie o novo relator da Lava Jato.
Como Temer e vários de seus ministros são citados nas delações das
empreiteiras, seria conveniente cuidar ao menos das aparências, num
momento em que o Brasil está perplexo com uma tragédia que acrescenta
pitadas de realismo fantástico ao colapso político e econômico do País.
A intenção de Teori era dar publicidade aos depoimentos dos 77
delatores da Odebrecht, assim como de outras empreiteiras que negociam
seus acordos, como Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa. Se o STF quiser
de fato honrar a memória do ministro, esta seria a melhor saída, pois só
assim, com transparência total, será possível desmontar a tese de que
tudo que vem acontecendo no Brasil nos últimos meses não tem como
objetivo maior "estancar a sangria" da Lava Jato, como disse o senador
Romero Jucá (PMDB-RR).
É bem verdade que muitos dos 150 ou 200 políticos que serão atingidos
pelas delações torcem pelo adiamento da homologação das delações, ou
até pelo esquecimento do caso. Mas esse é um desejo impossível de ser
atendido. Qualquer manobra que vise salvar a classe política deixará
impressões digitais e contribuirá para um rebaixamento ainda maior da
imagem do Brasil. Além do mais, será inútil, uma vez que os 77 delatores
da Odebrecht já prestaram seus depoimentos iniciais e só teriam que
confirmá-los nesta etapa final. Ou seja: se alguém quiser estancar a
sangria, tudo vazará instantaneamente.
O mais provável é que o luto com a morte de Teori e os trâmites
internos do STF adiem a homologação das delações por uma ou duas
semanas. Mais do que isso, será um tiro no pé da classe política e do
próprio Poder Judiciário.
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