Algum superior hierárquico do
delegado Igor Romário de Paula, como o diretor-geral da PF, Leandro
Daielo, irá puni-lo pela espetaculosa declaração de que Lula pode ser
preso dentro de 30 ou 60 dias? Nem pensar. Mas deixando de lado a
crueldade de tal declaração no momento que o ex-presidente Lula vive –
com dona Marina em coma induzido após um AVC, configurando verdadeira
tortura emocional, como disse Fernando Britto em O Tijolaço – Igor
Romário comete algumas transgressões. Afronta a lei e as garantias,
porque não está condenado; reforça a percepção de que Lula sofre
perseguição; e, teoricamente, compromete as investigações. Avisar sobre a
data de prisão de um investigado pode estimular a fuga e até mesmo um
pedido de asilo, atitudes que estão fora de cogitação no caso de Lula.
Mas, como procedimento policial, é conduta incorreta e nociva. Agora
mesmo, suspeita-se que Eike Batista embarcou para Nova York às vésperas
da Operação Eficiência porque houve vazamento sobre sua deflagração.
Há poucos dias o delegado-chefe da
equipe da PF na Lava Jato, Maurício Moscardi, em entrevista à revista
Veja, admitiu que haviam perdido o “timing” para a prisão de Lula.
Confessou, portanto, que tal prisão é um objetivo, sujeito a variáveis
políticas e às conjunturas, e não um imperativo legal, decorrente da
obtenção de provas e indícios. Foi uma estocada nos procuradores, dentro
da guerra de egos entre PF e MPF, Moscardi responsabilizou o vazamento
dos áudios Dilma-Lula pelo juiz Sergio Moro pela perda do timing.
Este outro delegado responde ao
colega, dizendo que a hora não foi perdida e que virá dentro de 30 a 60
dias. Como Lula não foi julgado nem condenado, nem mesmo em primeira
instância, só poderá ser preso se surgirem evidências de ocultação de
provas, obstrução das investigações, risco de fuga ou perigo para a
sociedade. E como como o delegado não tem poderes adivinhatórios para
assegurar que tais evidências vão surgir, o que ele faz ao anunciar a
hora da prisão é confirmar que contra Lula existe uma perseguição, a
determinação em prendê-lo seja como for. O que a PF investiga são
fatos, e não pessoas, o que também realça a natureza persecutória dos
inquéritos contra Lula.
Mas, deixando de lado os aspectos
morais e (des) humanos da ameaça, nas circunstâncias vividas por Lula,
ou por qualquer outro em seu lugar, a declaração do delegado assanhado
devia ser avaliada por seus superiores, em observância dos códigos de
ética e conduta dos policiais e da própria busca de eficiência das
investigações. Anunciar prisões sem indicar as razões fortalece
argumentos da defesa e fragiliza a Lava Jato, reforçando a percepção
nacional e global de que Lula enfrenta no Brasil um assédio violento,
uma cruzada, uma caçada.
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