A presidente eleita e deposta pelo golpe, Dilma Rousseff,
questionou o silêncio da mídia sobre a declaração que Michel Temer fez
em entrevista à TV Bandeirantes na noite do sábado 15, quando admitiu
que a abertura do processo de impeachment contra ela se deu por motivo
de chantagem de Eduardo Cunha, então presidente da Câmara dos Deputados.
"Em qualquer lugar do mundo, esta é uma declaração que
enseja a característica de desvio de finalidade do impeachment, disse
Dilma, após descrever a frase de Temer na entrevista, durante palestra
na Howard University, em Washington, nos Estados Unidos. "Um presidente
da República aceitando que era normal a chantagem. Que se tivéssemos
cedido a ela, eu ainda estaria na presidência. Pergunto eu: algum
impresso registrou essa denúncia feita em canal aberto de televisão?
Ninguém! Só a rede social", completou.
As declarações sobre a entrevista de Temer foram feitas logo
após Dilma ter dito que a "mídia no Brasil é oligopolizada". "Enquanto
você oligopoliza a opinião pública, a democracia fica comprometida",
afirmou, destacando o papel das redes sociais.
Na entrevista, Temer conta que Cunha só aceitou o processo
de impeachment contra Dilma porque o PT não aceitou votar em favor do
deputado no processo do Conselho de Ética que poderia cassar seu
mandato. "Algum impresso registrou essa denúncia feita em canal aberto
de televisão? Ninguém!", denunciou Dilma, sobre o silêncio da mídia.
"Vejam vocês. Aceitar uma chantagem é algo que é
incompatível com a ética. Principalmente nesse sentido de 'vamos salvar
uma pessoa que não deve ser salva para manter a presidente'. E ele ainda
lamentou dizendo 'eu queria que aceitasse'", prosseguiu Dilma, em tom
de incredulidade. "Porque quando ele fez isso estava em curso já o
golpe", completou.
Para ela, a fala de Temer "é eivada da pós-verdade". "No
Brasil hoje impera a pós-verdade", constatou. Em seguida, na palestra
que tinha como tema os desafios da democracia brasileira, a presidente
deposta destacou como "fundamental a democracia" e ainda a reforma do
sistema político no Brasil. Ela defendeu a criação de uma constituinte
exclusiva para a reforma. "Isso é crucial para a próxima etapa",
ressaltou.
Sobre 2018, ela disse ser "crucial também que não mudem as
regras do jogo, como decidir que presidente eleito duas vezes não pode
se eleger novamente. Podem até mudar essa regra, mas não para a próxima
eleição". Dilma se referia ao ex-presidente Lula, que deve se candidatar
para o próximo pleito.
Numa comparação entre Eduardo Cunha e o presidente dos
Estados Unidos, Donald Trump, Dilma Rousseff disse achar "Cunha pior do
que Trump". "Ele é de extrema-direita, bastante conservador, é
ultraneoliberal em economia e é uma pessoa dada a práticas
questionáveis", descreveu o articulador do golpe, exatamente um ano
depois da votação que deu início ao processo que culminou em seu
afastamento do Palácio do Planalto.
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