Temer e sua turma vivem a ilusão de que nas últimas horas as coisas
melhoraram e que ele pode até sobreviver, mesmo ferido e sangrando. Alguns aliados tentam empurrar a reforma trabalhista no Senado, Rodrigo
Maia tenta destravar a pauta da Câmara, apesar da obstrução da
oposição, DEM e PSDB adiaram o desembarque, houve a desqualificação da
gravação do homem-bomba da JBS...Tudo ilusão. A queda de Temer é um
fato marcado para acontecer, faltando apenas alguns acertos dentro do "establishment", especialmente sobre quem será o “indireto” sem
rabo-preso a ser eleito para tocar a agenda liberal com mais eficiência.
O rito a ser seguido deve ser mesmo o da cassação da chapa Dilma-Temer
pelo TSE, a partir de 6 de junho. Até lá, seremos entretidos com fogos
de artifício.
Quem tiver dúvida sobre a inexorável queda de Temer que se
faça uma pergunta: alguma vez as Organizações Globo entraram numa
disputa política para perder? Nunca. Por que então estariam, em todas as
suas mídias, mantendo o fogo alto e forte sobre Temer, se houvesse
alguma chance de perderem a parada? A segurança com que a Globo mantém a
ofensiva sugere, a muitos do mundo político, que a delação da JBS é
apenas uma pontinha da munição que a Globo tem contra Temer.
Tentando enxergar individualmente as árvores desta floresta densa, separemos os atores e as etapas.
1. O "acordão pelo alto". Enquanto Temer
esperneia e ganha tempo, seguem as articulações silenciosas por uma "solução constitucional", o que significa seu afastamento de forma
legal, com a eleição indireta do sucessor, tal com previsto na Carta.
Quais são os atores envolvidos? FHC certamente é um deles, juntamente
com os tucanos que realmente hoje contam, como Tasso Jereissati. O
presidente interino do PSDB diz que seu partido não seria "irresponsável" de deixar o governo pendurado no ar até que o TSE
realize o julgamento da chapa Dilma-Temer. Esta foi uma forte indicação
de que a degola de Temer virá mesmo pelo tribunal. Devem participar
das negociações, além dos tucanos, alguns empresários da “nata” do
capitalismo nacional mais responsável e uns poucos peemedebistas, como o
dissidente Renan Calheiros, que disse numa rede social: "Precisamos
construir uma saída na Constituição, que garanta eleições gerais em
2018 e Assembleia Nacional Constituinte. Fora disso é o imponderável.
Tenho convicção de que o presidente compreenderá seu papel e ajudará na
construção de uma saída".
Temer só pode ajudar de um jeito: renunciando. Por isso
estariam sendo discutidas também as garantias que lhe poderiam ser
oferecidas, como a de que não será preso caso renuncie. Estas conversas
correm numa faixa, mas em outra, Temer e sua turma tentam ganhar tempo,
contando com o medo geral do imponderável, que pode atender pelo nome
de diretas-já e de Lula. O "pacto pelo alto", como o batizou o
historiador José Honório Rodrigues, está com toda pinta de que vai
novamente vingar. As manifestações pelas diretas não explodiram de
largada, no domingo, prometendo um grande movimento de massas. Vamos ver
amanhã mas o outro lado está mais avançado. O povo está cansado e
desiludido.
2. O nome – Inicialmente, o mais cotado para
ser o “indireto” foi Henrique Meirelles mas este nome também já perdeu
força, assim como o de Nelson Jobim e o de Carmem Lucia. Meirelles
serviu à JBS por quatro anos, o que soa mal, e melhor servirá à elite
como ministro da Fazenda. Falou-se até mesmo em Rodrigo Maia mas este
terá outra utilidade para a transição. Será ele o presidente interino
enquanto correrem os preparativos para a eleição no Colégio Eleitoral
que vai ser ressuscitado.
A coalizão do golpe está apenas descartando Temer mas
continua sendo a mesma, com o mesmo programa. As "reformas" não são
coisas do Temer, mas uma exigência da elite, do capital que precisa
ampliar sua mais-valia. O nome do “indireto” pode surpreender, pode
estar sendo preparado em silêncio. Com certeza, será alguém que pode não
ter carisma mas não terá os defeitos gritantes de Temer: vulgaridade
moral e intelectual, rabo preso, deselegância litúrgica.
3. O rito do TSE. Inicialmente PSDB e o DEM
condicionaram a permanência ou o desembarque à decisão do Supremo sobre
o pedido de Temer para que o inquérito pedido por Janot seja suspenso.
Ontem, a ficha caiu para Temer e sua defesa. Como provavelmente o STF
manteria as investigações, o que seria uma antecipação da disposição
para afastá-lo logo que se tornar réu, Temer desistiu do pedido. PSDB e
DEM adiaram então a decisão para depois do julgamento do TSE. Este foi
um sinal claro de que a degola virá, por ironia, do tribunal presidido
por Gilmar Mendes, dileto amigo de Temer. A não ser, é claro, que
evoluam negociações sobre uma renúncia com garantias de que não será
preso. Será no TSE porque. dentre as "soluções constitucionais"existentes, este é o único rito que pode ser sumariamente consumado. O
impeachment, tanto quanto o afastamento pelo STF, após uma denúncia de
Janot, são processos por demais alongados diante da situação.
4.Papel da Globo e da mídia – Como eu disse
no início, quem achar que Temer pode sobreviver deve fazer-se uma
pergunta: alguma vez as Organizações Globo entraram numa disputa
política para perder? Não. Elas ajudaram a derrubar Jango em 64,
demoraram mas embarcaram no impeachment de Collor, que haviam ajudado a
eleger, foram decisivas na derrubada de Dilma e agora apostam alto
contra Temer. O império dos Marinho, por tudo o que significa como
poder real no Brasil, não embarcaria nesta cruzada se não tivesse o
aval de outras forças do sistema, como empresários, banqueiros,
militares etc. Aqui houve um desencontro entre os que apoiaram o golpe.
Os dois jornalões paulistas, por razões não de todo claras, seguem
jogando na ambiguidade. Foi a Folha que forneceu a Temer sua principal
arma de defesa, o questionamento da integridade da gravação de Joesley.
O Estadão, aqui e ali, aponta os crimes mas defende a importância da
estabilidade e da continuidade das reformas, numa espécie de “ruim com
ele, pior sem ele”.
A Globo, suspeitam alguns políticos, devem dispor de
informações muito mais graves contra Temer, ainda não utilizadas. Há
muitas coisas ainda mal explicadas, como por exemplo, o trajeto da mala
em que Rodrigo Loures recebeu propina de R$ 500 mil da JBS, depois de
ter sido indicado por Temer como mediador da relação entre eles.
Loures entregou-a hoje à Polícia Federal. Mas por onde a mala andou,
que não foi encontrada em sua casa durante a busca e apreensão da PF?
Coisas que existem entre o céu e a terra, não alcançadas pelo jornalismo
nem pela filosofia. Mas há quem tenha as respostas.
Portanto, as águas seguem seu curso inexorável. Salvo a
revogação de leis fundamentais da política, o que Temer e seus aliados
estão recebendo agora é a "visita da saúde", aquela melhora que sempre
precede o fim quando alguém está para morrer. É da vida, é da política.
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