247 - O ex-ministro José Dirceu publicou nesta quinta-feira um artigo em que defende a saída de Michel temer e a realização de eleições diretas e da convocação de uma Constituinte.
Foi a primeira manifestação de Dirceu após deixar a prisão.
Confira abaixo a íntegra do artigo de José Dirceu:
Em visita recente, o produtor Luiz Carlos Barreto lembrou-me
de que o filme "Terra em Transe", clássico de Glauber Rocha, completa
meio século. Não pude deixar de comentar que, novamente, o Brasil está
em transe.
A única solução razoável, antes como agora, é uma catarse,
uma revolução política, econômica, social e cultural. Não é possível um
acordo com quem rasgou o pacto constitucional de 1988 e atropelou a
soberania popular.
Os golpistas e seus avalistas, ao derrubarem um governo
legal e legítimo no intuito de revogar direitos e conquistas históricas
do povo brasileiro, puxaram a faca e cometeram crime de alta traição à
democracia.
Romperam o fio da história e colocaram em risco nossa soberania. Querem nos reduzir, de novo, à linha auxiliar do império.
A coalizão golpista deu origem a um governo abarrotado de
históricos corruptos. Nada disso, porém, importa aos falsos santarrões
que incensam a Operação Lava Jato, desde que os usurpadores fossem úteis
para a aplicação de reformas que destruíssem o legado petista, a
herança trabalhista e os êxitos do último processo constituinte.
Olhando e revisitando a história de nosso país, sabemos o
que está em jogo: o desmonte do recente e precário Estado de bem-estar
social, previsto na Constituição de 1988 e implementado durante as
administrações de Lula e Dilma Rousseff.
Assalta-se a renda do trabalho para garantir o pagamento de
juros exorbitantes, a ampliação da taxa de lucro das grandes corporações
e a retomada dos fundos públicos pelas camadas mais ricas.
Os golpistas não hesitaram em sabotar o governo Dilma.
Decretaram verdadeiro apagão nos investimentos e créditos, ampliando a
recessão, levando pânico aos cidadãos e paralisando o país.
Tratou-se de um vale-tudo para recuperar o comando do Estado e impor uma agenda rejeitada pelos eleitores desde 2002.
Não se vacilou em pisotear as regras democráticas e forjar
um arremedo de regime policial, no qual se opera a serviço de objetivos
político-ideológicos.
O Brasil precisa de liberdade para decidir seu futuro, com
eleições diretas, um novo governo popular e a convocação de Constituinte
soberana. É vital romper a camisa de força do rentismo e da
concentração de riqueza, reformar os sistemas financeiro e tributário.
Só assim viabilizaremos o desenvolvimento econômico, social e cultural.
Essa tarefa é histórica e pressupõe superar os limites
comprovados dos governos petistas -apesar dos avanços reformistas, ainda
não transformamos as estruturas de nossa sociedade e do poder político.
Não há espaço para conciliação. É necessário, para o
bem-estar social do país, dar fim à armadilha de uma falsa harmonia
nacional e um ludibrioso salvacionismo contra a corrupção.
O horizonte das forças populares e de esquerda deve ir além
das próximas eleições presidenciais, agora ou no próximo ano. Podemos
até vencer, mas sem ilusões: sob quaisquer circunstâncias, nosso norte é
o avanço no rumo de uma revolução política e social, democrática.
A meta é lutar, resistir e preparar um governo de amplas
reformas. Sob a proteção de um novo pacto constitucional, originário das
urnas, se a casa-grande voltar ao leito da democracia. Pela força
rebelde das ruas, se nossas elites continuarem de costas para a nação.
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