Desde as denúncias mais recentes, o governo brasileiro ficou reduzido
à sobrevivência de Michel Temer no poder, perdeu toda capacidade de
iniciativa e passou a ter o objetivo único de se demorar o mais possível
antes da queda. O pais fica ao deus-dará. A direita, que forjou essa
via do golpe, se mostra incapaz de dar continuidade a ele e sem coragem
de enfrentar as eleições diretas.
À direita não importava o que se fizesse para chegar ao objetivo
maior – tirar o PT do governo. Todo tipo de aliança e de meio servia
para obter esse fim e foi isso que levou ao golpe, com o vice-presidente
à frente.
A presença blindada da equipe de Meirelles e os seus banqueiros
representava a garantia de que a restauração do projeto neoliberal seria
preservada. O pacote de reformas mandado ao Congresso era a expressão
dessa restauração, junto com as políticas de ajuste e o desmonte da
Petrobras.
Para isso o governo golpista contava com o grande empresariado, com a
velha mídia e com uma folgada maioria no Congresso. Aprovar os
retrocessos em termos de direitos dos trabalhadores e das políticas
sociais era o termômetro do sucesso do governo e do próprio golpe.
A combinação entre a agressividade da Lava Jato contra o PT –
elemento indispensável no golpe – e a fragilidade do governo pela sua
composição de grande parte de corruptos, era um elemento frágil do
governo, mas que serviu até quando ele pôde tocar as reformas no
Congresso e o desmonte da Petrobras. As últimas denúncias deixaram o
governo perto do nocaute. Está perdido, sem ação, isolado, na contagem
regressiva para o seu melancólico final.
Mas esse esgotamento de Michel Temer mostra como a direita destrói
seu próprio governo, sem ter construído alternativas. Numa atitude
aventureira derrubou um governo legalmente eleito para colocar um bando
de ladrões para dirigir o Estado brasileiro. Agora está prestes a
tirá-los do poder, mas sem ter alternativa com um mínimo de legitimidade
e de apoio.
O país paga um preço alto por essas aventuras da direita brasileira.
Voltou a haver um forte processo de concentração de renda, depois de
termos conseguido, pela primeira vez na nossa história, diminuir
significativamente a desigualdade. Os direitos dos trabalhadores tiveram
um enorme retrocesso, depois de estes terem conquistado os maiores
avanços na história do movimento no Brasil. As políticas sociais foram
afetadas duramente, depois de o país ter saído do Mapa da Fome,
igualmente ela primeira vez na nossa história.
O fracasso do governo de Temer leva a um novo dilema à direita que o
guindou ao poder: mantê-lo, com o risco de que o governo se desagregue,
sendo derrubado pelas denúncias de corrupção e já sem capacidade de
aprovar o pacote de medidas que tanto interessa às elites brasileiras?
Ou correr o risco de uma operação difícil de conseguir outro consenso
para impor um novo Temer, mas sem poder contar com a unidade das mesmas
forças que impuseram o golpe?
As vozes que sentem que as eleições diretas são o único caminho
legítimo aumentam, mas na direita elas contam com a inviabilização da
candidatura de Lula – que tem como vencedor seguro nas diretas. Mesmo
sem ele, tem medo de que vença quem ele vier a apoiar.
A direita entrou num beco sem saída e termina fazendo com que o país,
nas suas mãos, se encontre nessa mesma situação. Serão meses de disputa
intensa, de caráter político e institucional, de massas, de ideias, da
qual sairá um país distinto.
Ou a direita se aferra de qualquer maneira ao governo, tendo que
aumentar a repressão e a violação das normas constitucionais e
jurídicas, ou o país entra em um processo de redemocratização e
reconstrução nacional, conduzido de novo pela esquerda.
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