247 – O
empresário Joesley Batista, dono do grupo J&F, que controla a JBS,
decidiu quebrar o silêncio e afirmou que o Brasil é hoje presidido por
seu maior e mais perigoso criminoso. Sim, ele mesmo, Michel Temer.
"O Temer é o chefe da
Orcrim da Câmara. Temer, Eduardo, Geddel, Henrique, Padilha e Moreira. É
o grupo deles. Quem não está preso está hoje no Planalto. Essa turma é
muita perigosa. Não pode brigar com eles. Nunca tive coragem de brigar
com eles. Por outro lado, se você baixar a guarda, eles não têm limites.
Então meu convívio com eles foi sempre mantendo à meia distância: nem
deixando eles aproximarem demais nem deixando eles longe demais. Para
não armar alguma coisa contra mim. A realidade é que esse grupo é o de
mais difícil convívio que já tive na minha vida", disse Joesley, em entrevista à revista Época.
Na entrevista, Joesley falou sobre sua relação com Temer, sempre baseada na troca de favores. "Nunca
foi uma relação de amizade. Sempre foi uma relação institucional, de um
empresário que precisava resolver problemas e via nele a condição de
resolver problemas. Acho que ele me via como um empresário que poderia
financiar as campanhas dele – e fazer esquemas que renderiam propina.
Toda a vida tive total acesso a ele. Ele por vezes me ligava para
conversar, me chamava, e eu ia lá."
Ele menciona o caso em que
Temer o pediu para ajudar a financiar a guerrilha na internet, para
ajudar a golpear a presidente legítima Dilma Rousseff, a quem devia
lealdade institucional, e financiar o golpe de 2016. "Sempre estava
ligado a alguma coisa ou a algum favor. Raras vezes não. Uma delas foi
quando ele pediu os R$ 300 mil para fazer campanha na internet antes do
impeachment, preocupado com a imagem dele. Fazia pequenos pedidos.
Quando o Wagner saiu, Temer pediu um dinheiro para ele se manter. Também
pediu para um tal de Milton Ortolon, que está lá na nossa colaboração.
Um sujeito que é ligado a ele. Pediu para fazermos um mensalinho.
Fizemos. Volta e meia fazia pedidos assim. Uma vez ele me chamou para
apresentar o Yunes. Disse que o Yunes era amigo dele e para ver se dava
para ajudar o Yunes", afirma.
Segundo Joesley, Temer acredita que os empresários lhe devem favores em razão do cargo que ocupa. "Há
políticos que acreditam que pelo simples fato do cargo que ele está
ocupando já o habilita a você ficar devendo favores a ele. Já o habilita
a pedir algo a você de maneira que seja quase uma obrigação você fazer.
Temer é assim", diz ele.
"Temer é o chefe de Cunha"
O empresário afirma ainda
que Eduardo Cunha, o ex-presidente da Câmara que aceitou o impeachment
fraudulento e hoje está condenado a mais de 15 anos de prisão, é
subordinado a Temer. "A pessoa a
qual o Eduardo se referia como seu superior hierárquico sempre foi o
Temer. Sempre falando em nome do Temer. Tudo que o Eduardo conseguia
resolver sozinho, ele resolvia. Quando ficava difícil, levava para o
Temer. Essa era a hierarquia. Funcionava assim: primeiro vinha o Lúcio
[o operador Lúcio Funaro]. O que ele não conseguia resolver pedia para o
Eduardo. Se o Eduardo não conseguia resolver, envolvia o Michel",
afirma. "Em grande parte do
período que convivemos, meu acerto era direto com o Lúcio. Eu não sei
como era o acerto do Lúcio do Eduardo, tampouco do Eduardo com o Michel.
Eu não sei como era a distribuição entre eles. Eu evitava falar de
dinheiro de um com o outro. Não sabia como era o acerto entre eles.
Depois, comecei a tratar uns negócios direto com o Eduardo. Em 2015,
quando ele assumiu a presidência da Câmara. Não sei também quanto desses
acertos iam para o Michel. E com o Michel mesmo eu também tratei várias
doações. Quando eu ia falar de esquema mais estrutural com Michel, ele
sempre pedia para falar com o Eduardo."
Joesley relembra que a eleição de Eduardo Cunha para a presidência da Câmara institucionalizou o achaque. "O
mais relevante foi quando Eduardo tomou a Câmara. Aí virou CPI para cá,
achaque para lá. Tinha de tudo. Eduardo sempre deixava claro que o
fortalecimento dele era o fortalecimento do grupo da Câmara e do próprio
Michel. Aquele grupo tem o estilo de entrar na sua vida sem ser
convidado", afirma. Ele enfatizou ainda que a turma que governo o Brasil
pós-golpe "é a maior e mais perigosa organização criminosa deste país, liderada pelo presidente".
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