A história recente do Brasil mostra
que é preciso convencer as mentes e amolecer os corações para que a
indiferença em relação à desigualdade e injustiça social se transforme
em ação política capaz de incidir nas mudanças institucionais.
Em 2002, Lula conseguiu convencer
mentes e corações acerca da absurda convivência com a miséria e a
corrupção naturalizadas em nossa sociedade. E foi eleito presidente.
Naquele momento, o PT se tornou hegemônico na constituição de uma
coalização mudancista.
Porém, ao longo dos anos o governo
petista, embriagado pela mosca azul do poder, deixou-se contaminar, em
parte, pelos maus-feitos historicamente perpetrados pelas elites
econômicas e políticas deste país. Foi perdendo, paulatinamente, o apoio
das esquerdas e daqueles segmentos progressistas que exigem ética e
coerência no trato da coisa pública.
Desde 2013, com as jornadas e junho
e durante o processo eleitoral de 2014, numa disputa real e simbólica,
observamos a tomada das ruas pelos setores mais conservadores da
sociedade brasileira, nas manifestações domingueiras promovidas pela
mídia. Porém, desde o ano passado, com o recrudescimento das disputas
políticas, as esquerdas e os movimentos sociais progressistas começaram a
esboçar uma reação.
Num cenário de corrosão econômica e "endireitamento" do Parlamento chegamos ao impensável golpe que culminou
na assunção de um governo ilegítimo de homens ricos, brancos e
corruptos: uma caricatura de nossas elites sociais, políticas e
econômicas.
Ao mesmo tempo em que o PT perdia a
hegemonia da esquerda, foi-se constituindo uma ampla coalização que se
concretiza, como observamos na última manifestação deste 10 de junho,
numa resposta pujante na defesa da democracia e suas regras
procedimentais e contra a superestrutura do golpe, formada pelas elites
políticas, sociais e empresariais, com apoio dos segmentos judiciais e
midiáticos.
As frentes Brasil Popular e Povo Sem
Medo foram se somando a outros segmentos sociais que, com a assunção do
governo golpista, se unem contra a agenda neoliberal, conservadora e
entreguista que tenta destruir não somente um partido político (PT) e
uma governante legitimamente eleita (Dilma), mas fundamentalmente a
consolidação da democracia e a construção de um país mais justo e
igualitário.
A total ausência de notícias sobre
as manifestações deste 10 de junho na mídia golpista não sinaliza
somente a má-fé dos promotores do golpe, mas, fundamentalmente, o
desespero dos setores golpistas à medida que a empreitada conservadora
vai sendo desmascarada e aumenta a mobilização social em prol da
democracia e contra o governo interino. E isso não ocorre somente no
território nacional. Temos informações de manifestações a denunciarem o
golpe em várias partes do mundo, envolvendo uma classe média
progressista e diversos campos sociais (intelectuais, artistas,
militantes políticos, etc.).
As manifestações desse 10 de junho
mostraram, claramente, que os setores progressistas da sociedade
começaram a ganhar os corações e as mentes dos brasileiros. Aos poucos,
todos os brasileiros e brasileiras vão percebendo que governo provisório
é péssimo para os trabalhadores, os pobres, os aposentados, os
segmentos vulneráveis e também para a classe média que, a curto prazo,
pagará o preço de uma política concentradora de riqueza e renda nas mãos
de poucos.
Precisamos mostrar que o governo
golpista ataca as políticas sociais em vez de taxar os mais ricos. É
preciso demonstrar, com toda a clareza, a farsa construída através de
perversa tramoia que destituiu uma presidenta legítima e colocou em seu
lugar um gabinete cujo programa é o oposto do que foi decidido nas
urnas, em 2014. É imperioso mostrar que a presidenta Dilma, mesmo com
falhas, fez um governo sério num quadro de endireitamento do Parlamento,
aguda crise econômica e traições das mais perversas.
É claro que não estamos em 2002, mas
se essa "onda" de esperança num país de e para todos e todas continuar
espraiando para dentro e fora do Brasil teremos condições de reverter o
golpe e recolocar o país nos trilhos da democracia.
Povo nas ruas e ideias novas precisam se articular num denominador comum da luta para reverter o golpe.
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