Nunca é demais recordar: em agosto
de 2014, a economia brasileira vivia uma situação de "pleno emprego". A
taxa de desemprego, segundo o IBGE, era de apenas 5% – a menor de toda a
série histórica com os critérios atuais, iniciada em 2002 (relembre aqui).
O ministro da Fazenda era Guido
Mantega, preso e solto nesta semana, na mais polêmica etapa da Operação
Lava Jato. Acusado frequentemente de "quebrar a economia brasileira",
Mantega foi o ministro que entregou as maiores taxas de crescimento da
história recente do País (no governo Lula) e os menores níveis de
desemprego (no governo Dilma).
Poucos meses depois daquele agosto
fantástico, logo depois de ser reeleita para o segundo mandato, a
presidente Dilma Rousseff reconheceu que o novo quadro internacional,
com a queda das commodities e o esgotamento das medidas de estímulo,
exigia um ajuste fiscal. Decidiu trocar Mantega por Joaquim Levy, que
planejava colocar em marcha um rápido plano de controle orçamentário,
que previa a volta da CPMF e o reequilíbrio das contas públicas.
Tudo parecia certo, mas não havia
pintado ainda no horizonte a aliança entre o senador Aécio Neves
(PSDB-MG), derrotado nas eleições presidenciais de 2014, e o hoje
cassado deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Juntos, ambos fizeram com que a
agenda do País passasse a ser dominada pelo tema do impeachment,
contando com o auxílio luxuoso dos meios de comunicação conservadores.
Se isso não bastasse, colocaram em pauta no Congresso as "pautas-bomba",
que arrombavam as contas públicas e impediam qualquer iniciativa de
ajuste. Era a tática do "quanto pior, melhor", defendida publicamente
por alguns tucanos, como Alberto Goldman, como estratégia para se
conseguir o impeachment (saiba mais aqui).
O resultado foi a deterioração
progressiva da economia brasileira, que criou as condições para o
crescimento dos protestos de rua. Além disso, o avanço da Operação Lava
Jato prejudicava setores inteiros da economia, como a construção pesada e
a indústria naval, aumentando a massa de desempregados.
O resto da história é conhecido.
Dilma foi afastada, o PMDB está no poder e o PSDB, que apostou no
'quanto pior, melhor', hoje posa de bom moço, cobrando de Michel Temer
cortes de gastos e reformas estruturais na economia. A Petrobras vende
ativos a toque de caixa, em processos com pouca transparência, no que
vem sendo definido pelos petroleiros como um crime de lesa-pátria (leia
mais aqui).
17 meses de demissões
Quem ganhou com isso? Os
brasileiros, certamente, não. Com os dados do Caged divulgados nesta
sexta-feira, soube-se que a confiança prometida por Temer e Meirelles
não voltou. Ao contrário, as empresas continuam demitindo, ainda que num
ritmo menor, e agosto foi o décimo-sétimo mês seguido de demissões. Em
um ano, a crise brasileira produziu 1,65 milhão de desempregados a mais
(saiba mais aqui).
Em Nova York, Temer e sua equipe
tentaram vender otimismo a investidores. Meirelles disse que, a partir
de agora, o preço das concessões será dado pelo mercado – como se as
concessões do governo Dilma tivessem sido um fracasso. O problema é que a
história desmente essa versão. Basta notar as transformações recentes
dos aeroportos de cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e
Campinas.
Quem hoje de fora olha para o Brasil
enxerga uma economia arruinada, um Poder Judiciário hipertrofiado,
empresários amedrontados, e alguns sendo obrigados a depositar fianças
bilionárias para, simplesmente, ter o direito de entrar nas próprias
empresas. Por mais que se venda "segurança jurídica", os donos do
capital não são idiotas.
O resultado final é uma economia em
círculo vicioso: menos emprego, menos renda, menos consumo, menos
investimento, menos arrecadação e contas públicas – o pretexto para o
golpe – ainda mais arrombadas. Não por acaso, a única realização obtida
até agora pela equipe econômica foi a ampliação do déficit em mais de R$
100 bilhões.
Valeu a pena destruir o Brasil para
retirar o PT do poder? Os que hoje estão no poder e os que tentam contar
uma história oficial a partir dos meios de comunicação associados ao
golpe dirão que sim. Mas a conta ficou pesada demais e será paga pelas
próximas gerações. Por muitos e muitos anos.
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