Michel Temer, o breve?

Beto Barata 
O presidente Michel Temer tem motivos para temer. Há semanas ele não comparece a eventos públicos, apenas a atos fechados, para plateias seletas, monitoradas por seguranças em todos os lados. Na comovente cerimômia fúnebre deste sábado 3, em Chapecó, para a equipe desaparecida no acidente aéreo em Medellín, Temer precisou usar de ao menos dois subterfúgios para estar diante do público. Após divulgar que iria apenas ao aeroporto receber as urnas e homenagear com medalhas os atletas mortos, ele, à última hora, afirmou que não pretendia incomodar, mas que desde sempre estava decidido a comparecer à Arena Condá, onde os chapecoenses receberam os caixões de seus heróis.
Para adentrar o gramado e cumprir seu papel protocolar, Temer, cautelosamente, precisou esperar a execução do hino do clube catarinense e, em meio ao canto, aos aplausos e a emoção generalizada, deu seu primeiro passo a céu aberto em semanas. Protegeu-se com um momento que não poderia ser interrompido com vaias para fazer sua cena e, ato contínuo, recuar. A verdade é que ele se tornou, desde o primeiro dia no poder, um presidente que não pode sair na rua.
RECESSÃO PODE VIRAR DEPRESSÃO
Com uma agenda provocativa e nitidamente anti-popular, que ignora solenemente alternativas pontuais de estímulo econômico, como, por exemplo, um plano nacional de renovação de frota automotiva, apresentado a ele por sindicalistas do setor metal-mecânico, o presidente igualmente não consegue mais agradar nem mesmo ao mercado financeiro.  “Se o Banco Central não tomar cuidado, a recessão atual irá se transformar em depressão”, avaliam, em uníssono, dois dos mais respeitados economistas do campo ortodoxo e, portanto, confiável a banqueiros e empresários, o ex-presidente do BNDES Luiz Carlos Mendonça de Barros e o ex-diretor do BC Carlos Eduardo Thadeu de Freitas.
Eles se referem à fixação do presidente da autoridade monetária, Ilan Goldfajn, em buscar, já em 2017, o centro da meta de inflação, o que pode acontecer, por ausência de pressão de demanda, agora mesmo em 2016. O ex-sócio do banco Itaú adota uma política tímida e alheia às necessidades gritantes de corte de juros. À razão de tirar da Selic 0,25 ponto por reunião do Copom, Goldfajn e seus diretores já conseguem desagradar até mesmo os chamados monetaristas, sem nunca terem passado um sinal de esperança à turma da produção. Vale sempre lembrar que, em artigos, Goldfajn cansou defender o desemprego como bom remédio para controlar a inflação. Tem motivos, assim, para, mesmo sob pressão, estar felicíssimo.
ARMÍNIO FUNGA NO CANGOTE DE MEIRELLES
Na mesma toada, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, torna-se rapidamente alvo de uma gama crescente de frustrados com a inanição da economia. Atado aos compromissos políticos de Temer, que a tudo cede, seja a pressões de governadores interessados em fatias milionárias da multa da repatriação de fortunas que estavam no exterior, ou à manutenção do ‘sempre foi assim’ de privilégios da Previdência Social, Meirelles já vai sendo cercado por avaliações de que lhe falta criatividade no trabalho. Lançadas as medidas macroeconômicas, como a PEC do teto dos gastos e, ainda que em linhas gerais, o projeto de reforma previdenciária, muito mais Meirelles não fez. E nada deu certo, com o desemprego catapultado a cada medição, o consumo derrubado mês a mês e o PIB minguante pelo sétimo trimestre consecutivo. O economista Armínio Fraga já lhe funga o cangote, apontado como alternativa à falta de resultados em seus pouco mais de seis meses de mando.
"OU SANCIONA, OU CAI"
No campo político, Temer enfrenta a humilhação de ter sua cabeça à prêmio no próprio Congresso. Ali, já se diz que, se não sancionar, sem vetos, o pacote anticorrupção remendado e desfigurado pelos deputados, uma vez confirmado no Senado, Temer cai. Duas revistas semanais, Veja e Época, sem identificar suas fontes, trazem, nas edições que estão nas bancas, frases iguais de que o presidente sabe que cairá, por total falta de apoio, se cismar de mexer no que os políticos com mandatos federais aprontam contra a magistratura.
FHC: "Se Temer cair, diretas"
A suprema humilhação para Temer já é dita, com todas as letras, pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O tucano não vê mais problemas em aventar a hipótese de o presidente ser derrubado. E isso pode acontecer por falta de apoio no Congresso, ou no julgamento que transcorre no TSE sobre irregularidades na contabilidade da campanha presidencial (e do vice), em 2014. Leia-se, desvios e caixa dois.
“Se Temer cair, deve haver eleições diretas”, reclama FHC, empunhando a bandeira que o PT deveria ter desfraldado quando se mostrou impraticável manter Dilma Rousseff no poder. Os petistas, para variar, vacilaram e o chefe dos tucanos deu-lhes um drible, ele próprio saindo na frente como nome viável da direita civilizada.
O breve
Tudo somado, o presidente com sua agenda antipopular, auxiliares engessados por denúncias públicas e projetadas e dissimulação que se desfaz diante dos  fatos poderá ser visto pela história como Temer, o breve.
Fonte: Marco Damiani

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