O que transforma um país
numa potência? A literatura geopolítica, em geral, aponta três fatores:
poderio militar, segurança alimentar e segurança energética.
Os Estados Unidos, por
exemplo, são a maior potência militar do planeta e grandes produtores de
alimentos. Não são autossuficientes em petróleo, mas exercem influência
decisiva sobre o Oriente Médio, a custa de guerras e intervenções
políticas. Recentemente, uma novo caminho começou a ser explorado, com
as explorações do gás de xisto.
A Rússia, por sua vez,
concentra os três elementos: controla um arsenal atômico, algumas das
maiores reservas de óleo e gás do mundo e também possui forte superávit
alimentar.
A China, das três grandes potências, é a mais frágil, uma vez que é grande importadora de petróleo e alimentos.
Aspirante a potência, o
Brasil, há muitos anos um gigante agrícola, vinha trilhando um caminho
alternativo na era Lula-Dilma. Com as descobertas do pré-sal, o País
trocou o modelo de concessão pelo de partilha, uma vez que o risco
exploratório já havia sido mitigado pelas pesquisas da Petrobras em
águas profundas. No campo militar, a renovação dos caças da Força Aérea e
o projeto do submarino nuclear ajudariam a patrulhar as reservas
nacionais de óleo e gás. Além disso, outra conquista importante foi a
expansão das fronteiras marítimas do País, com a chamada "Amazônia
azul".
Com o golpe parlamentar de
2016, no entanto, tudo mudou. A primeira vítima foi o pré-sal e Temer
conseguiu aprovar o projeto de José Serra para abrir as reservas a
empresas estrangeiras, como havia sido prometido pelo atual chanceler à
petroleira americana Chevron. Em breve, nos próximos leilões, a
Petrobras de Pedro Parente, embora tenha direito de preferência, deverá
demonstrar desinteresse. Até porque já fez acordos para se desfazer de
gigantescos campos de petróleo com as empresas francesa Total e
norueguesa Statoil.
No campo militar, o
submarino nuclear foi abatido pela Lava Jato, que teve como dois de seus
alvos a Odebrecht e o almirante Othon Pinheiro, responsável pela
condução do projeto. Além disso, há rumores de que o governo pretenda
trocar os caças Gripen, que transferem tecnologia ao Brasil, pelos caças
americanos F-16.
O ataque mais recente se dá
no agronegócio, onde Temer pretende permitir, por medida provisória,
que estrangeiros tenham até 100 mil hectares no Brasil. No mundo de
hoje, terras aráveis são um dos bens mais escassos do planeta e Temer
pretende colocar o Brasil em leilão, o que também pressionará o consumo
de outros recursos naturais – raros no mundo e a abundantes no Brasil –
como a água.
Temer vai tocando essa
agenda sem sequer ligar para a opinião pública. Pesquisas recentes já
indicaram que os brasileiros são contra a abertura do pré-sal. Outro
levantamento apontou que Temer é reprovado por 66,6% dos brasileiros,
mas ele se considera legítimo para fazer o que bem entende.
Coincidência ou não, o
general Eduardo Villa Bôas, chefe das Forças-Armadas, onde ainda existe
um pensamento nacional, disse, neste fim de semana, que o Brasil está "à
deriva", sem projeto e sem saber o que pretende ser. Os militares,
claro, são contra o abandono do submarino nuclear e também contra a
venda de terras para estrangeiros, mas ainda não reagiram à destruição
da era Temer.
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