247 – Dois
levantamentos, feitos pelos jornais Globo e Folha, revelam que Michel
Temer não tem votos para barrar a primeira denúncia do procurador-geral
Rodrigo Janot, que o acusa de corrupção passiva, no episódio da mala de
R$ 500 mil, entregue a seu ex-assessor Rodrigo Rocha Loures.
Segundo O Globo, Temer tem
44 votos dos 171 votos necessários para escapar, enquanto a Folha contou
45. Ou seja: aproximadamente, apenas 13% dos aliados disseram
publicamente ser contra a investigação contra Temer.
Mesmo que escape na
primeira, Temer ainda será acusado de obstrução judicial e organização
criminosa por Janot, que vê provas sólidas contra ele.
Caso a denúncia seja
acolhida pela Câmara, Temer será afastado por 180 dias e o deputado
Rodrigo Maia (DEM-RJ) assumirá a presidência interinamente.
Leia, abaixo, reportagem da Reuters a respeito:
Por Lisandra Paraguassu
SÃO PAULO (Reuters) -
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou neste sábado
que a narrativa da denúncia apresentada contra o presidente da
República, Michel Temer, é "muito clara e muito forte", mas que não teve
nenhum "prazer mórbido" em denunciar o presidente.
"Ninguém tem esse prazer
mórbido de oferecer denúncia contra um presidente no exercício do cargo.
Queria ter passado ao largo disso", afirmou Janot, em uma sessão no 13o
Congresso da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo
(Abraji), ao comentar a suposta fragilidade da denúncia oferecida ao
Supremo Tribunal Federal.
"A narrativa é muito forte.
É de uma clareza tão grande, eu duvido que não fosse recebida em
qualquer outro juízo. Se isso não é motivo para abrir uma ação penal, eu
não sei o que é."
Janot disse ainda que ao
apresentar uma denúncia não se entrega um "caderno de provas", mas
indícios suficientes para se abrir a instrução penal.
"Se apresento, a defesa vai
dizer que produzi as provas sem ouvi-los e é preciso anular tudo",
disse o PGR. "Ninguém vai passar recibo. Esse tipo de prova é satânica, é
quase impossível. Tem que olhar a narrativa".
De acordo com Janot, não há
como negar a relação do ex-deputado Rodrigo Rocha Loures com Temer e o
fato de que Loures, o "homem da mala", agia por determinação do
presidente.
"Tem um acerto para que um
bandido --não deixa de ser um bandido-- entrasse na residência do
Presidente da República, tarde da noite, sem ser identificado e, se
fornecesse um nome, devia ser um nome falso. Isso é impensável. E esse
ajuste foi feito com o cara da mala", afirmou.
O PGR confirmou ainda que
trabalha em outras duas investigações contra o presidente, uma de
participação em organização criminosa e outra de obstrução da Justiça.
"Uma delas está mais adiantada, mas não tenho como dizer que a denúncia vai sair dia tal", explicou.
Ao ser questionado se
pretendia desacelerar o ritmo nos meses finais no posto, já que deixa o
cargo em 17 de setembro e sua substituta, Raquel Dodge, já foi indicada,
Janot negou.
"Enquanto tiver bambu, lá
vai flecha. Até o dia 17 de setembro a caneta está na minha mão e eu vou
continuar nesse ritmo que estou", garantiu.
Fontes que acompanham de
perto o trabalho do procurador disseram à Reuters, há algumas semanas,
que Janot planeja, antes de sair, encerrar as negociações das próximas
delações que trazem grandes expectativas, a do ex-ministro Antonio
Palocci e do operador financeiro Lúcio Funaro --essa mais adiantada.
A intenção de Janot não é
apenas fechar os acordos, mas ter tempo ainda de usá-las para pedir as
aberturas de inquérito que podem vir dos acordos.
ESCOLHA DE SOFIA
Janot ainda defendeu o
acordo de delação premiada com os executivos da JBS, alegando que passou
por uma "escolha de Sofia". Segundo o PGR, se a delação não fosse
fechada, ela seria cobrada porque teria deixado que crimes de altas
autoridades continuassem a ocorrer.
"A escolha de Sofia a fazer
era fingir que não ouvi isso e deixar que isso continue porque a
premiação ao delator é alta. Ele não deixou de ser bandido porque
colaborou, mas a sociedade brasileira ganhou mais. Estou com a
consciência tranquila", disse.
De acordo com o procurador,
é preciso estar atento para articulações legislativas que possam
limitar a ação do aparato de investigação do Estado. O procurador cita,
por exemplo, uma proposta de prazo limite para investigação.
"A única maneira de segurar isso é cidadania ativa, é o trabalho da imprensa", afirmou.
Janot elogiou o fato de
Temer ter escolhido Raquel Dodge, segunda colocada na lista tríplice
votada pelo Ministério Público, como uma vitória institucional, mesmo
que ela não tenha sido a primeira colocada na votação. Mas explicitou
diferenças com a próxima procuradora-geral.
Dodge já deu declarações em
que diz acreditar que as negociações de delações premiadas não poderiam
definir reduções ou anulações de pena porque esse não seria o papel do
MP.
"Se não puder mexer na
pena, o que eu vou oferecer? Nada. Uma caixa de bombom garoto, um pão de
mel. Se não tiver redução de pena não tem acordo", defendeu.
POLÍCIA FEDERAL
Apesar das divergências com
a Polícia Federal --em especial as reclamações por parte da PF de que
deveria participar dos acordos de delação-- Janot elogiou o trabalho da
polícia, que classificou de essencial.
E, em meio aos boatos de
que o Palácio do Planalto manobra para tirar Leandro Daiello da direção
da PF, em uma manobra para tentar controlar as investigações, deu um
recado:
"É impensável hoje um
diretor-geral que não seja um delegado de Polícia Federal. Isso é
impensável admitir como sociedade", afirmou.
Próximo de deixar o cargo,
com 33 anos de carreira, Janot afirmou que o nível de corrupção
encontrado pela operação Lava Jato é o que mais o chocou em sua vida
pública.
"O que mais me chocou foi a
extensão dessa atividade criminosa. E a decepção é que isso se
estendeu, atingindo pessoas e instituições que eu jamais poderia supor,
imaginar", disse. "Hoje ainda se vê pessoas com a maior desfaçatez e
cara de pau continuar a mesma atividade criminosa".
Por Lisandra Paraguassu
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