SÃO PAULO (Reuters) -
Em seu primeiro recado ao PT depois do final das eleições, o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu ao partido para ter calma,
esperar a poeira baixar e não se precipitar na avaliação do cenário
pós-eleição, e reafirmou a posição de liderança no partido que o
presidenciável da sigla, Fernando Haddad, conquistou depois do segundo
turno.
Convocada pela presidente do
partido, senadora Gleisi Hoffmann, a Executiva da sigla, acrescida de
parlamentares e outros petistas graúdos, se reúne nesta terça-feira em
São Paulo para fazer uma primeira avaliação de cenário. No entanto,
embalada pelo recado de Lula, a tendência Construindo um Novo Brasil
(CNB) —da qual o ex-presidente e Haddad fazem parte— ecoa a posição
lulista.
"A maioria (da CNB) avaliou que a
reunião de amanhã é precipitada. Vamos recomendar que não se tenha
nenhuma avaliação. Precisamos ter calma", defendeu o presidente do PT do
Rio, Washington Quaquá. "Todo mundo que ganha uma eleição tem
legitimidade democrática. Precisamos fazer oposição a coisas concretas".
Um dos coordenadores da campanha de
Haddad, o deputado Emídio de Souza esteve nesta segunda-feira com Lula
em Curitiba e fez um relato aos membros da CNB em uma reunião nesta
tarde. O recado do ex-presidente foi entendido.
Sua avaliação foi de que o resultado
eleitoral não foi bom, obviamente, pela derrota, mas permitiu ao PT
liderar um processo que reuniu gente para além dos partidos, em uma
frente que envolveu a sociedade, e ir além do que se esperava em uma
eleição em que Lula foi impedido de concorrer pela Lei da Ficha Limpa.
Antes de definir um discurso de atuação, o partido tem que decidir como trabalhar para manter isso, contou uma fonte.
Haddad foi derrotado no segundo
turno da eleição presidencial para Jair Bolsonaro (PSL), que teve 55,1
por cento dos votos válidos, contra 44,9 por cento do petista. Apesar da
derrota, foram 47 milhões de votos.
O ex-presidente coloca Haddad, que
foi seu substituto na chapa, no centro das discussões daqui para frente.
Recomendou que o ex-prefeito de São Paulo seja consultado sobre seus
planos e como planeja liderar essa frente de oposição ao governo
Bolsonaro.
Alinhada com os desejos do
ex-presidente, a CNB —e outros petistas aliados diretamente a Haddad—
avaliam que o ex-candidato conquistou um espaço que precisa ser usado
para que o PT possa continuar liderando essa frente de oposição.
"Haddad saiu como uma grande
liderança, saiu com estatura para ser uma liderança nacional. Antes só
tinha Lula", disse Quaquá. "Haddad passa a ser um grande interlocutor
com a sociedade e se credenciou para liderar uma frente democrática.
Essa é a posição do Lula também".
O tamanho e o papel que Haddad irá
desempenhar nesse futuro PT está no centro das preocupações de Lula e do
próprio partido. Seus defensores crêem que o tempo de resistências ao
ex-prefeito acabou e reconhecem que foi a capacidade dele de conversar
com diferentes setores que levou o partido a conseguir ampliar seu leque
de apoios —além, claro, da rejeição a Bolsonaro.
Ainda assim, reconhecem fontes petistas, há setores no partido que temem a perda de liderança e de holofotes para um "novato".
"A discussão é mais complexa que uma
avaliação de cenário. Que papel Haddad terá? Isso terá que ser
discutido mais profundamente. Que espaço tem? Para cumprir esse papel
virá para a estrutura do partido?", disse uma das fontes. "Precisa
pensar o que vai ser feito... as coisas precisam ter um compasso".
Em seu discurso depois do anúncio da
eleição de Bolsonaro, Haddad se colocou à disposição para liderar uma
oposição mas, lembra a fonte, não foi conversado com ele ainda até que
ponto pretende colocar seu envolvimento.
Nesta segunda, o ex-prefeito não foi
à reunião da CNB. Pela manhã, saiu de casa apenas para ir até o Insper,
onde dá aulas, e perguntado sobre o que faria daqui para frente, disse
que voltaria a trabalhar porque tinha apenas tirado uma licença de 90
dias para a campanha.
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