Conheça pessoas que foram desenganadas pelos médicos, mas mantiveram a esperança e sobreviveram.
"Por que eu?". A pergunta feita por Ana Karla Costa Severiano a si mesma tentava "entender" o porquê de estar com um agressivo câncer no ovário aos 22 anos de idade. Esse fato ocorreu em 1988 quando depois de sentir fortes cólicas por cerca de seis meses, Ana resolveu procurar ajuda médica especializada e uma ultrassonografia confirmou o diagnóstico. O procedimento cirúrgico para retirada do ovário esquerdo foi realizado em janeiro do mesmo ano.
Nessa época, Ana Karla cursava o 2º período da faculdade de enfermagem. O tipo de câncer da jovem era congênito, ou seja, nasceu com ela. De acordo com os médicos que a atenderam, esse tipo de tumor é raro em adultos e deveria ter se manifestado ainda na infância. Exatamente 24 horas depois do procedimento, a jovem foi levada novamente à sala de cirurgia porque seu intestino parou. "Depois da cirurgia o médico disse que não podia fazer mais nada que só Deus para me tirar daquela situação que era difícil", lembra.
O prognóstico domédico de que a paciente poderia não sobreviver devido ao tamanho do tumor e a realização de um novo procedimento somente 24 horas depois do primeiro não foi levado em consideração por Ana. "Falava para mim mesma: só quem sabe se vou viver é Deus", disse. E 48 horas depois da segunda cirurgia o intestino da jovem voltou a funcionar e a melhora foi crescente a cada dia.
Apesar da evolução crescente da medicina e da tecnologia, os erros de prognóstico dos médicos e de diagnóstico por parte dos profissionais baseados em exames complementares ainda ocorrem. A "retirada da luz no fim do túnel" pelos profissionais da medicina pode ser mais prejudicial aos pacientes do que a própria doença. E são em momentos como esses que família, amigos, religião ou crença fazem realmente a diferença na vida e durante o tratamento de cada paciente.
O apoio familiar e a crença em "algo superior" fazem com que o tratamento ministrado contra a doença surta, na maioria dos casos, efeito positivo no paciente. Atuando como médico oncologista há quase 35 anos, Roberto Sales, superintendente da Liga Norte-Riograndense Contra o Câncer, garante que "é claramente perceptível a diferença entre pacientes com e sem fé" mesmo nos casos em que os pacientes são alertados que o caso é grave. "Devemos falar a verdade ao paciente, mas não temos o direito de tirar a pontinha de esperança que o paciente tem de se curar", ressalta. A preocupação do médico é reiterada pela psicóloga da Liga, Ana Élida Magalhães. A especialista afirma que a verdade deve sempre ser compartilhada com o paciente, mas o médico deve ter certo cuidado ao dar a notícia de que o paciente está com câncer ou que tem poucas chances de sobreviver, especialmente com os idosos que ainda se assustam com a palavra câncer.
Mesmo depois de receber a notícia de que sua expectativa em relação à vida era pequena, a jovem Ana Karla decidiu lutar e passou pelo tratamento com tranquilidade. Em agosto de 1988, sete meses depois da primeira cirurgia, o tumor voltou no mesmo lugar e ainda mais forte. Ela lembra que devido ao tamanho do tumor (parecido com um mamão), o médico avisou que ela conseguiria sobreviver por, no máximo, três meses.
Na tentativa de regredir o tamanho do tumor, os médicos recomendaram quatro sessões de quimioterapia e 33 de radioterapia que foram ministradas de agosto a dezembro de 1988. Como não conseguia se alimentar por causa dos enjoos e vômitos, reações típicas da quimioterapia, a jovem perdeu mais de 20 quilos e chegou a pesar somente 33 quilos. "Fechei a faculdade por um ano porque estava muito fraca", lembra.
Porém, para surpresa de todos, em janeiro de 1989 os exames detectaram que o tumor havia regredido significativamente e recomendaram um novo procedimento cirúrgico. O tumor foi retirado e dois meses depois Ana fazia novas sessões de quimio e radioterapia até o mês de julho. Três anos depois do último procedimento cirúrgico, Ana e o marido decidiram perguntar aos médicos sobre a possibilidade de uma gestação. Os especialistas informaram que uma gravidez seria praticamenteimpossível devido aos efeitos nocivos da quimio e radioterapia e sugeriram a adoção.
O assunto adoção não havia passado pelo casal como uma forma de realizar o sonho de ter um filho. No entanto, a partir daí, a sugestão do médico passou a ser cogitada pelo casal que começou a se preparar para adotar uma criança em dezembro do mesmo ano. Para contrariar os prognósticos médicos pela segunda vez, Ana conseguiu engravidar de um menino que nasceu saudável e hoje aos 18 anos cursa engenharia civil.
EsperançaSe para algumas pessoas o fato do prognóstico médico ser desenganador se transformando num tormento ou mesmo desestímulo, para Ana Karla seria apenas mais "um momento difícil". Hoje, aos 44 anos, a enfermeira conta que o fato serviu de incentivo para continuar a luta pela vida. "Estamos aqui não para passar férias, mas enfrentar momentos difíceis", acredita.
Falar sobre a gravidade da doença é sempre a melhor forma de encarar as dificuldades que podem ser enfrentadas durante o tratamento. Apesar de que o método usado pelo médico para falar essa verdade e o histórico do paciente podem ser determinantes nesses casos. Algumas pessoas, embora com receio do que virá pela frente, optam por levar o tratamento "numa boa" e tomam atitudes simples como se alimentar corretamente, sair com a família para se divertir, conversar e se distrair, tudo isso ajuda muito a recuperação de qualquer doença por mais grave que seja.
Outras, entretanto, literalmente "são carregadas" pelos amigos e familiares para dar continuidade ao tratamento e não desistir com a primeira turbulência. Fatos como esse ocorrem mais com os pacientes que têm tendência à depressão, segundo a psicóloga Ana Élida. Por este motivo, a notícia de que o tratamento pode não ter o sucesso desejado pode contribuir negativamente para essa pessoa mais ainda do que a própria doença.
O presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Norte (Cremern), Jeancarlo Fernandes, esclarece que o prognóstico de sobrevida do paciente é baseado em probabilidade dos casos semelhantes. O fato é que fica uma margem de fora em que podem ocorrer os "erros" de prognóstico. "Pessoas com o mesmo tipo de tumor reagem diferentemente ao tratamento, especialmente se levarmos em consideração fatores externos, por isso não é necessariamente um erro médico dizer que o paciente tem pouco tempo de vida e isso não se concretizar", pontua.
Jeancarlo chama atenção para os casos em que ocorre erro de diagnóstico do médico devido ao resultado apresentado nos exames. Nos casos em que for evidenciado o erro de diagnóstico médico devido a um erro do laboratório ou clínica, a denúncia deve ser formalizada no conselho. "O paciente ou a família deve denunciar o laboratório ou a clínica ao Cremern que vai apurar o caso e ver o que realmente aconteceu", diz. A punição vai desde a advertência confidencial até a cassação do diploma. Tudo varia de acordo com o dano ocasionado ao paciente.
Nota do blog da Verdade: O pensamento positivo, o apoio da Família e dos amigos ainda é a melhor medicação para se obter a "CURA".
"Decidi lutar contra a doença"
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