O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. (Guimarães Rosa)
Quando se fala de coragem, normalmente associa-se a palavra a uma ação de heroi destemido. E isso, hoje em dia e na maioria das vezes, é um lamentável erro salvo raras e honrosas exceções.
Tudo porque temos enraizado, nas nossas memórias, as lendas e histórias de feitos heróicos que constituíram uma das bases da formação da maioria das pessoas da minha geração. Daí é natural, mas muitas vezes errada, associação de idéias.
Hoje, o dia a dia das pessoas está mais recheado de atos de coragem, e mais do que elas próprias o conseguem imaginar.
E não se admirem, nem considerem um exagero, o que acabei de escrever, porque estou a falar da coragem de ato cívico e de ato desinteressado que infelizmente nem todos nos dispomos a efetuar, mas que ainda se vai praticando neste nosso país indiferente. Reparem então e vejam se não tenho razão.
Há um inegável ato de coragem quando:
- Alguém se coloca, sem receios, do lado de alguém que foi vítima de uma injustiça.
- Alguém não abdica dos seus direitos, contra tudo e contra todos.
- Alguém apóia claramente uma reivindicação de outro, que acha justa, mesmo que isso a possa vir a prejudicar.
- Alguém assume frontalmente que o erro foi seu, sem desculpas tolas.
- Alguém toma a defesa de uma pessoa que está a ser objeto de violência gratuita.
- Alguém solicita o livro de reclamações num local onde não foi atendido como devia.
- Alguém se nega a cometer um ato que sabe vir a prejudicar terceiros, mesmo que com isso ponha em causa a sua posição.
- Alguém se oferece para testemunhar na justiça a verdade a que assistiu.
Como vêm, são tudo atos simples de cidadão honesto e cumpridor. E, no entanto, nos tempos que correm como são tão pouco apreciados.
Como dizia Winston Churchill: A verdadeira coragem está muitas vezes nos atos a que ninguém dá importância.
Fonte: Vitor Faria


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