RIAJ – E “A CEREJEIRA NÃO É ROSA MAIS”.
Jair Eloi de Souza (*)
Havia uma névoa seca. O crepúsculo permeado de
nimbos chorosos. A melancolia era uma dádiva das trevas do além, cuja negritude
apavorava os infantes que já ouviam os primeiros pios de corujas que saíam de
taperas onde dantes moravam seus ancestrais. Um cenário sinistro, pois a noite,
embora noviça, era silente e embaçada. O velho candeeiro perdia força em sua
missão de lampejar. A estação do canto de Niná havia começado, no intuito de
que todos adormecessem para dar trégua e descanso à grande mãe de quem muito
gostava Riaj. Mas, a primeira madorna só acontecia mesmo quando aquela senhora
solfejava as primeiras notas de sua melodia preferida, a cerejeira não é rosa
mais*. Um hino para a dormência de peraltas da traquinagem sob a luz do dia.
Riaj sempre foi aquele ser que, embora infante,
adereçava sua coifa do livre pensar com a aselha onde se via o cênico da
alegria, da tristeza, e de enorme vontade de viver, não só como arte de
dissipar o tempo, mas de ser algo mais; ter sua tenda de beduíno onde pudesse ouvir
a canção dos magos da sabedoria, apascentar seus cordeiros com o som de sua
flauta, se não mágica, mais atrativa até para amainar a raiva da serpente
cuspideira**, e transformá-la numa bailarina encantada.
Amante da suavidade do canto de sua mãe, Riaj nunca
esquecera seu cantarolar, nem a melodia que estava sempre a solfejar, para que
viesse a dormir embalado em mimos daquela cantiga de Niná.
“A
cerejeira em
flor,
Que tu
gostavas de
olhar,
É a
companheira da
dor,
Do meu
amor
A
cerejeira não é rosa mais,
Ficou tão
triste com o adeus,
E agora
pra mostrar seu amor,
Não tem
mais cor.”
Aquela Senhora ficara de cabelos brancos, com o
dissipar do tempo tornara-se mais sedosa com os seus, se fora, deixara saudade,
mas, nunca Riaj esquecera o seu canto de Niná, nos versos da CEREJEIRA EM FLOR.
É outono, terminara o verão, os amantes já se foram.
Diz o poeta: “As juras de amor já não se escutam mais”.
A lua é uma noviça/2012.
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