A SECA NO NORDESTE: A LENTA E CRUEL MORTE NO SERTÃO.

Jair Eloi de Souza*

Nem a morte de bravura, Nem soluço da acauã,
O exílio da asa branca, o sobrosso do sertanejo,
A fina veia em cacimba, o sumiço da arribação,
O sertão está sem voz, da política, só desprezo.

Há dias que venho matutando no meu livre pensar irredento, com um quadro que se afigura desastroso para o sertão nordestino, com a morte do rebanho vacum, ovino, caprino, com o exaurimento do bioma caatinga, a fuga de abelhas, das aves aquáticas, a morte de toda reprodução dos que ainda compoêm a fauna silvestre, a estagnação de toda a cadeia produtiva no seguimento de derivados do leite, não se levanta uma voz, nem na província (Assembléia Legislativa), bem como na esfera federal (Câmara e Senado), que traga ressonância prática para o enfrentamento da pior estiagem em contextualidade (todos os Estados do Nordeste) e exiguidade de precipitação pluviométricas (de chuvas). Posso afirmar no costado dos meus insiginificantes estudos sobre o assunto, que não posso deixar de comparar o atual quadro, com a devastadora estiagem do triênio - l877,l878 e l879), obviamente no Século XIX, quando um terço da população do Ceará, foi dizimada, cerca de mais de 300 mil pessoas tiveram suas vidas ceifadas.

Por pertinente informar, que naquele tempo, não tínhamos estradas, transporte, o nordeste rural, ainda colhia água nos tubérculos do sistema radicular do umbuzeiro, a popa de macambira ribeirinha era a matéria para fazer cuscuz, o couro das reses era salgado, cortado em nacos e pilado para alimento humano. O nordestino era alimentado com a jocozidade irresponsável de um imperador que prometia vender o butim (coroa, ouro, jóias preciosas), para acudir os nordestinados a morrerem de fome, o que nunca aconteceu.

De bem ressaltar que como exemplo pontual, aqui na nossa região (sertão potiguar), tivemos uma única manifestação de solidariedade humana, foi de um homem chamado JESUÍNO BRILHANTE, cangaceiro, homem da faina agro-pastoril, que com tropa de burros, arrombava os paiós de mantimentos dos gripos nas cidades do litoral salineiro, e trazia para distribuir com os seus compatrícios sertanejos, mesmo assim, não foi reconhecido seu gesto, e teve sua vida ceifado a mando do Cel. lobato, mandatário da jurisdição de Brejo do Cruz.

A situação atual é bem diferente: tem estrada, tem o transporte marítimo, tem um centro-sul atulhado de volumoso, (cana-de-açucar, sorgo, milho, soja, heráceas mais diversas, grãos,), mas, o que seria suficiente para salvar o resto do rebanho (com vocação lactente (gado de hotel) e o que ainda resta para o fornecimento de carne. Porém, a necessidade e a tomada de uma decisão política, sofre os efeitos da ante-sala da discussão política ou politiqueira, de como destinar os recursos, (já que nem os governos provincianos possuem a metodologia adequada), sem privilegiar os adversários. O norte, o objetivo, o problema não é a morte da vida nesse mundaréu esquecido chamado Nordeste. É a sobrevida dos feudos políticos, que não sabem mercadejar a normalidade, a barriga cheia, a normalidade, só encontram o prazer quando se abraçam de solaio com a miséria.

Somado esse quadro de providências tardias, assistimos a letargia, a indiferença e por não dizer o desmatelamento dos órgãos que dantes planejavam, acompanhavam a execução, orientavam, como a EMATER, a EMPARN, a Secretaria Estadual da agricultura, enfim, não há um convívio passa a passo, com o homem do campo. Setores inteiros desses órgãos estão angustiados, desprezados. os laboratórios sem o necessário do seu instrumental, sem o exercício de suas atividades. E por bem ressaltar, não é meu foco o Governo atual. Seu pecado é venial, a agudez do destroçamento do setor primário, é resultado da omissão de uma elite política, cuja competência se exaure nos limites de ganhar a eleição, e isso vem de algumas dezemas de primaveras.

A tenda política trata única e exclusivamente das possíveis candidaturas ao próximo pleito. Não está havendo uma ação centrada, nesse iminente desastre humano, portanto social, eeonômico e financeiro do campo. Não há dados das disponibilidade dos lençóis freáticos (lençóis subterrâneos) em nenhuma das regiões, mas, fiquemos nos limites da área sofrida, os sertões do semi-árido. Não assisti nenhum mutirão envolvendo os setores agrário ou pastoril e Governo, para amenizar essa crueza, por não dizer travessia, e olhem que estamos no quarto mês do ano. Abril não chuvoso, onde se pode e se constata que do Caicó até pancada do mar, não se sabe mais se tem vida animal, o sertão está beijando sem saber a brisa do mar.

Em tempo: O grito para salvação ainda pode ser ouvido.

*É Professor de Direito e Secretário Municipal do Meio Ambiente de Jardim de Piranhas

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