A política como ela é

Não se trata de um político qualquer. O deputado federal Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) é presidente da Câmara dos Deputados –terceiro nome, portanto, na linha de sucessão presidencial– e candidato ao governo de seu Estado, à frente de uma coligação da qual participam 17 partidos.
A circunstância permitiu que, em reportagens publicadas por esta Folha, fosse acompanhado de perto seu "modus operandi" no cenário de uma campanha regional.
Passando, em quatro dias, por 13 municípios do interior do Estado, o deputado potiguar fez declarações que valem por um pequeno tratado a respeito do funcionamento real do poder político no país.
Não há ministro, presidente da República ou representante do Judiciário, disse o presidente da Câmara, que não tenha batido às portas de seu gabinete. Tendo ajudado a todos, prosseguiu Alves, haverá de chegar-lhe agora, caso eleito, a vez de viver a situação inversa.
"A partir de janeiro, se preparem todos eles do Executivo, do Legislativo, do Judiciário", disse. "Quem vai bater à porta deles sou eu".
Curiosa promessa: como governador, vocalizará a situação de dependência de seu Estado diante das esferas federais. Mas a declaração funciona, do ponto de vista da campanha ao governo, como sinal da suposta vantagem que teria em relação aos adversários.
Não se apresentam, no raciocínio, discordâncias partidárias ou programáticas. A declaração do peemedebista se harmoniza com outra realidade: na sua chapa, aliam-se tanto o PSDB de Aécio Neves como o PSB de Marina Silva.
Se for Marina a eleita, diz Alves, "teremos a força de Wilma" –a saber, Wilma de Faria, sua candidata ao Senado, numa aliança que aliás dissolve a histórica rivalidade entre dois clãs da política local, os "bacuraus" da família Alves e os "araras", ligados à família Faria.
Se for Aécio, "temos uma amizade forte", assegura o deputado, que ainda tem no seu próprio partido, o PMDB, o principal sustentáculo do governo Dilma Rousseff (PT) no Poder Legislativo.
Conceitos como "oposição" e "situação" não fazem sentido nesse universo. Importa, em benefício das demandas regionais e dos favores que se trocam por fidelidades de clã, estar sempre na situação.
Só muda a função a ser exercida nesse jogo: se a federal ou a estadual, se a de quem cobra ou a de quem recebe. Não se está no plano da representação política, no que respeita a alternativas de governo ou a interesses sociais distintos.
Sem real autonomia administrativa e financeira dos Estados, tem-se na verdade um modelo que reúne o pior de dois mundos. Centralização de verbas e favores, ao lado da provincianização da política partidária. Nesse ambiente, Henrique Alves, e seus congêneres em todo o país, transitam em triunfo.
Fonte: blog do primo 

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