Deputado italiano adverte: "Mãos Limpas" quebrou a Itália; "Lava Jato" pode quebrar Brasil

Em sua entrevista à BBC Brasil, o deputado italiano Vittorio Craxi relembra abusos cometidos pelo Ministério Público e pelo Judicário italianos nos anos 1990 na Operação Mãos Limpas, ou Mani Pulite.
O objetivo da operação foi desmantelar esquemas de pagamento de propina por empresas privadas interessadas em garantir contratos com estatais e órgãos públicos e desvio de recursos para o financiamento de campanhas políticas.
O resultado da investigação levou ao fim da chamada Primeira República Italiana, erguida pelas forças políticas que derrotaram o fascismo na Itália, ao final da Segunda Guerra Mundial, e cujas principais partidos foram a Democracia Cristã (DC) e o Partido Socialista Italiano (PSI) e o Partido Comunista Italiano (PCI).
A Mãos Limpas italiana seria a fonte de inspiração de muitos policiais e procuradores que atuam na Operação Lava Jato, que investiga o desvio de recursos da Petrobras para partidos políticos, segundo o jornal Folha de S.Paulo.
Mas Vittorio Craxi, conhecido como Bobo Craxi, filho de Bettino Craxi e ex-deputado pelo PSI, em relação à Operação Mãos Limpas reforça o alerta: a Mãos Limpas piorou a situação no país.
Segundo Craxi, se antes no meio político havia desvios ilegais para prover fundos a partidos, hoje cometem-se ilegalidades "para financiar-se a si mesmo".
Na principal ironia da história, o maior beneficiário foi o empresário milionário de mídia Sylvio Berlusconi, personagem inclassificável em muitos aspectos, inclusive aqueles que não fazem parte de conversas familiares.
Graças à Operação Mãos Limpas, que tirou de cena concorrentes que poderiam lhe fazer frente, Berlusconi teve força para ocupar, por duas vezes, o posto de primeiro-ministro, totalizando uma permanência somada de sete anos e meio no cargo.
Dentro de um universo de instituições enfraquecidas, a posse de uma rede privada de emissoras de TV transformou Berlusconi num político imbatível, que acumulou poderes de ditador e foi capaz de submeter o país a uma sucessão de vexames – no caso mais notável, convenceu o Parlamento a aprovar uma lei que simplesmente impedia que fosse investigado por corrupção.
Quando deixou o cargo, forçado por mais escândalos – fiscais, familiares, etc – o regime político italiano fora colocado de joelhos, como um poder submisso diante da troika do FMI, do Banco Central e da União Europeia, que, desde então, se vale de sucessivos governos sem musculatura real para confrontar uma política de esvaziamento de um dos mais respeitados estados de bem-estar social do planeta. (Agencias)

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