Pelo menos quatro documentários estão em fase de produção sobre o
golpe contra a presidente Dilma Rousseff (PT) cujo ato final está em
pleno curso no Senado Federal. A presença de equipes de filmagens e de
documentaristas consagrados tem incomodado os senadores, em especial aos
que apoiam o impeachment. O constrangimento que as filmagens tem
causado nos golpistas foi motivo de um comentários da senadora Gleisi
Hoffman (PT-PR) e de Petra Costa.
Gleisi foi ao microblog Twitter para sugerir que o ataque à
democracia em marcha no Congresso Nacional será julgado pela história e
pelas gerações futuras, que terão à disposição grandes reportagens
cuidadosamente coordenadas. "Golpistas reclamam das equipes de filmagem
porque não querem o golpe registrado na história. Mas vai ter
documentário com a carinha deles sim", escreveu.
Petra Costa, antropóloga, atriz e cineasta, com dezenas de prêmios no
currículo, passou a ser alvo de ataques dos que apoiam o golpe, que
acusam sua obra de ser um libelo em favor de Dilma. A artista teve de
vir a público para defender sua liberdade de registrar o momento
histórico de acordo com seu olhar: "Nas últimas semanas temos sido
vítimas de calúnias em diversos veículos de comunicação, o que só revela
o desconhecimento que existe sobre o gênero documentário. A alucinação
chega a tal ponto de alguns dizerem que Dilma adotará tom emotivo no
Senado só para ficar melhor no nosso filme!", escreveu.
Petra registra que trabalha no documentário desde março, registrando
um "momento histórico e tão delicado da nossa jovem democracia". Ela
revelou que tem entrevistado parlamentares de oposição e da base,
advogados de defesa e de acusação e registrado protestos pró e contra o
impeachment.
Citando o cineasta Patricio Guzman, ela reafirmou que um país sem
documentários é como uma casa sem álbum de retratos. "O filme nasceu de
um desejo de compreender como os bastidores da política, tão distantes
do dia a dia do brasileiro (fisicamente, inclusive), estão impactando
nossa sociedade, e vice-versa".
Ela ainda critica a revista Veja: "A reportagem publicada em Veja, a
qual cita o documentário que estou dirigindo, provisoriamente chamado "Impeachment", incorre em erros que levam a desqualificar o meu
trabalho. Equívocos que foram replicados em postagem feita pelo
jornalista Reinaldo Azevedo. Em entrevista publicada na íntegra no site
da revista, é possível compreender que não estamos participando de
nenhum jogo de cena e que o texto da versão impressa não foi fiel as
minhas declarações".
Segundo o site do El Pais, pelo menos outros três produções sobre o
atual momento político brasileiro estão em fase de produção. A paulista
Anna Muylaert é roteirista e produtora de um documentário que será
dirigido por Lo Politi, reconhecida diretora de publicidade, cujo foco
principal e a presidente Dilma. O que a dupla quer com o filme é
registrar o que serão possivelmente os últimos dias de Dilma no Governo,
retirada da presidência e colocada à espera na rotina do Palácio da
Alvorada, até a decisão final do Congresso. Ainda sem nome, o projeto
foi apelidado por senadores e deputados de Será que ela volta?, pergunta
pertinente que ainda por cima homenageia o longa de Anna.
O carioca Douglas Duarte planeja um filme que retrate o Congresso
Nacional e a brasiliense Maria Augusta Ramos passou a filmar os
acontecimentos políticos na Capital Federal a partir da votação do
impeachment na Câmara, com os deputados votando por suas mães, seus
filhos e outros parentes.
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