A Lava Jato, a criminalização da política e a demonização do PT
surtiram os efeitos esperados: abstenção e voto nulo batendo candidatos
que vão ao segundo turno, derrota aplasmante do PT, avanço das forças
conservadoras e uma vitória inegável do PSDB. O PMDB ficou praticamente
onde sempre esteve: com muitas prefeituras no interior e presença tênue
nos grandes centros urbanos. Segundo as leis da política, a vitória
tucana afetará a relação com os peemedebistas e com o governo Temer. Nas
vésperas do pleito foram nítidos os movimentos no sentido de que,
liquidada a força político-eleitoral do PT, a Lava Jato vai centrar fogo
no PMDB como sócio do petrolão. E com isso, podem ser abertas as portas
para o descarte de um governo que, cinco meses após a posse, não
estabilizou a política nem aprumou a economia. As mesmas justificativas
usadas para derrubar Dilma podem ser reembaladas numa operação contra
Temer.
Segundo as leis da política, o vitorioso pode cantar de galo no
terreiro e cobrar faturas políticas. Embora a vitória tucana tenha
fortalecido especialmente o grupo do governador Alckmin, o partido, que
já vinha claudicando no apoio a Temer, agora vai elevar o tom de suas
cobranças em relação à agenda neoliberal que o governo promete mas não
consegue executar tal como esperado pelos que apoiaram o golpe do
impeachment.
E como a sintonia entre o PSDB e a Lava Jato é fina, as coisas
continuarão acontecendo em paralelas perfeitas. Na semana que antecedeu a
eleição de domingo houve sinais claros de inflexão da Lava Jato, ou do
comando que paira sobre ela, que inclui as grandes mídias. O PMDB entrou
no foco. A revista Época publicou uma matéria de capa colocando o
partido de Temer como sócio graúdo do PT no esquema da Petrobrás. A
revista Veja trouxe Renan Calheiros na capa, informando que, depois de
Cunha, será a vez dele. É claro que Lula e outros petistas continuarão
sendo bombardeados, segundo o objetivo de torná-lo inelegível. Mas se
vier fogo pesado contra o PMDB, muita coisa pode acontecer.
A mais importante delas seria a decisão tucana de abreviar o governo
Temer alegando, como vem dizendo FH, que ele não liderou o processo e
não entendeu que “tem a história nas mãos”. Mas como presidentes não
podem ser derrubados sob o argumento de que governam mal, , o golpe
viria com outra vestimenta jurídica: a ação no TSE, apresentada pelo
PSDB, que pede a cassação da chapa Dilma-Temer.
Já houve muito esforço analítico tentando demonstrar a
implausibilidade de que a ação termine com a impugnação, logo com o
afastamento, de Michel Temer. Mas a hipótese continua existindo no
horizonte, a serviço do projeto tucano. Se o PSDB tivesse real interesse
em demonstrar que não cogita do afastamento de Temer, tomaria pelo
menos a providência de pedir a retirada da ação da qual é autor.
Argumentos existiriam, como o de que as finanças da campanha foram
coordenadas pelo PT, afetando Dilma, que já perdeu o mandato, mas não o
candidato a vice, que já alegou não ter tido participação na
arrecadação. E como o julgamento ficou para o ano que vem, segundo
anunciou o presidente do TSE, Gilmar Mendes, se Temer cair em 2017,
teremos a eleição indireta de um presidente tampão que governaria até
primeiro de janeiro de 2019. Tampão, mas com direito à reeleição. E
nesta hora, quem saiu mais forte das ruas terá voz mais ativa no
processo. O candidato pode até não ser um tucano filiado e emplumado mas
teria que ter o beneplácito dos ganhadores de domingo.
Podem ser outros, entretanto, os rumos do novo capítulo que começa
agora na história da crise política que não terminou com o impeachment
de Dilma. Pode ser que o PSDB resolva apenas “sangrar” o Temer, para
usar o verbo que sempre brandiram contra petistas em maus lençóis. Mas,
em qualquer hipótese, certo é que o PSDB terá protagonismo maior,
realçado pelas vitórias que colheu.
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