No dia 17 de abril deste ano, uma
sessão da Câmara dos Deputados manchou para sempre a história do Brasil,
quando os deputados decidiram abrir um processo de impeachment contra a
presidente Dilma Rousseff, sem qualquer base legal.
Naquele dia, 54 milhões de votos
foram jogados no lixo e a sessão foi definida pelo escritor português
Miguel Sousa Tavares como uma assembleia de bandidos comandada por um
bandido.
Eduardo Cunha já está preso e cerca
de 200 deputados que votaram pela saída de Dilma serão atingidos pelas
delações das empreiteiras.
Um dia depois, num discurso
histórico, Dilma fez um alerta e sugeriu que, a partir daquele dia, o
Brasil se transformava numa terra sem lei.
"Eu acredito que é muito, mas muito
ruim para o Brasil, que o mundo veja que a nossa jovem democracia
enfrenta um processo com essa baixa qualidade. Baixa qualidade
principalmente quando se trata da formação de culpa da presidente da
República. Por quê? Se é possível condenar um presidente da República
sem que ele tenha qualquer culpabilidade, o que é possível de ser feito
contra um cidadão qualquer, que é aquele que nós todos somos, quando não
somos presidente? Ou seja, o que é possível fazer com o cidadão e a
cidadã brasileira que são, na verdade, os grandes personagens,
protagonistas da história da democracia?", questionou.
Hoje, o resultado desse crime contra
a democracia está exposto ao mundo de forma humilhante para o Brasil. O
presidente do Congresso Nacional, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), é
afastado por uma liminar do Poder Judiciário e todos os senadores da
Mesa Diretora assinam uma nota em que se recusam a cumprir a decisão.
Ou seja: como não há mais lei no
Brasil, desde que Dilma foi cassada numa "encenação", como disse Joaquim
Barbosa, também não há mais lei que garanta os direitos de Renan
Calheiros, nem lei que obrigue os senadores a seguirem uma decisão
judicial.
O Brasil vive hoje uma anomia, que coloca em risco sua própria sobrevivência como nação.
Em entrevista coletiva nesta terça, Renan afirmou que a "democracia brasileira não merecia esse fim".
No entanto, a democracia brasileira
começou a morrer no dia em que foi aberto o processo de impeachment
contra Dilma. E quem apoiou essa farsa não tem o direito de reclamar.
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