A hipocrisia da Rede Globo atingiu um limite maior, um recorde! Pelas
novelas, há décadas, todas as noites, em horários nobres, incentiva o
sexo precoce, rebaixa as mulheres a objetos sexuais, faz elegia do
machismo, glamouriza a prostituição, afiança traições, arranca roupas,
tira camisas, exibe bundas, paga peitinhos e... agora diz que a política
interna da emissora não se coaduna com o vil assédio sexual do ator
José Mayer - ele próprio personagem cafajeste, poligâmico e violento.
Na verdade, um simples afastamento do assediador e a
liberação de campanhota de atrizes contra o assédio - exatamente elas
que, pela grana, claro, topam todos os papeis de mulheres inferiorizadas
que a Globo lhes dá - não são bem uma punição nem uma autocrítica.
Panos quentes, isso sim.
A questão do assédio do galã de olho de vidro sobre a trabalhadora dos camarins é maior e de fundo.
Umberto Eco previu que a televisão de má qualidade
destruiria a sociedade italiana. A Globo destruiu a brasileira, e não há
no horizonte de longo prazo qualquer chance de reverter essa situação,
levando a democracia a, ao menos, domar a Globo. O PT, que teve
correlação de forças favorável para fazer isso, tremeu. E traiu.
Agora, um dos resumos da nossa ópera bufa se chama José
Mayer. O cara vem e diz que errou, as globelezinhas botam camisetinhas
dizendo que todas foram mexidas e colunistas do pensamento único já vão
dizendo que a Globo dá exemplo de administração de crise. Triste e
patético.
Quero ver pedir para mudar o foco das novelas, reivindicar
um jornalismo que não misture tragédias e alegrias para banalizar a
vida, exigir mínima isenção política e combater a propriedade cruzada.
O resto, como diria FHC, são 'pinuts'.
A respeito das colunas do pensamento único, segue a de
Daniel Castro, do Folhão, que narra tudo direitinho e, no final, dá
ponto para a... Globo!
DANIEL CASTRO - Publicado em 04/04/2017, às 16h04
- A Globo foi muito esperta (e feliz) na reação à acusação de assédio
sexual contra o ator José Mayer, um dos seus grandes galãs, eterno
símbolo do macho viril de suas novelas. A emissora transformou um crime
ocorrido em seus camarins, potencialmente prejudicial à sua imagem, em
uma peça de marketing social.
Ao suspender Mayer de suas produções, estimular um movimento
feminista em seus corredores e forçar o ator a admitir o erro, a Globo
passou uma imagem de empresa moderna, sintonizada com seu tempo, e
decretou o fim da era do teste de sofá (aquele em que o ator ou atriz
tinha de fazer um favor sexual ao diretor para conseguir um trabalho).
A emissora, inicialmente, foi discreta diante da acusação,
feita em fevereiro pela figurinista Susllem Meneguzzi Tonani, de que
José Mayer teria passado a mão em sua genitália. Instaurou uma apuração
interna e esperou o caso morrer. Mas a figurinista, encerrado seu
contrato por obra com a novela A Lei do Amor, resolveu colocar a boca no
trombone. Seu relato corajoso chocou milhares de mulheres, começando
pelas que trabalham na própria Globo.
No último final de semana, a direção da emissora foi
pressionada por funcionárias, muitas delas atrizes de renome. Esperta, a
cúpula da Globo soube usar a energia do inconformismo a seu favor.
Convictos de que Mayer abusara da figurinista, ergueram o código de
conduta ética da emissora, peça que já condena todo tipo de assédio
entre seus colaboradores.
Mais do que isso, os executivos estimularam uma manifestação
(eles rejeitam o termo protesto) em curso nesta terça-feira.
Funcionárias da emissora passaram a vestir (e a exibir nas redes
sociais) uma camiseta com a frase "Mexeu com uma, mexeu com todas". No
Vídeo Show, as atrizes Nathalia Dill, Débora Nascimento e Júlia Rabello
exibiram suas roupas-cartazes e condenaram o assédio sexual.
Assim, a Globo transformou em notícia uma ação que ela
própria apoiou, levando a manifestação muito além dos muros de seus
estúdios no Rio de Janeiro. Deu visibilidade a um tema muito valioso nos
dias de hoje e demonstrou que acredita em valores como o respeito, que
faz questão de grafar, em seus documentos internos, com letra maiúscula.
Ponto para a Globo.
Fonte: Marco Damiani
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