Por Diego Sartorato, Emilly Dulce e Vivian Fernandes, no Brasil de Fato –
Cerca de 5 mil pessoas participaram dos três atos de lançamento da
Marcha Nacional Lula Livre, nesta sexta-feira (10) em cidades do Goiás e
Distrito Federal. A Marcha é uma iniciativa do Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e da Via Campesina, organização
internacional que articula comunidades camponesas em todo o mundo. Serão
50 quilômetros a serem percorridos a pé em três colunas, que partem de
diferentes pontos de Goiás rumo a Brasília (DF), onde as fileiras se
somam à mobilização convocada para registro da candidatura do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República. Lula
é preso político há mais de 120 dias, na sede da Polícia Federal em
Curitiba (PR). Neste sábado as fileiras devem percorrer 15 Km, em média,
pelas estradas, a partir das 6h.
Com um grande ato político e cultural que reuniu quase 2 mil pessoas
na Praça da Prefeitura, em Formosa (GO) camponeses de nove estados do
Nordeste - reunidos na Coluna Ligas Camponesas - inauguraram a
caminhada.
"Quem marcha nunca esquece o que vê. Do pó das marchas sobe um
letreiro escrito com os pés, que os governantes e os latifundiários
sabem reconhecer: lá vem a sede por justiça!", afirmaram integrantes da
Juventude do MST em jogral durante o ato de abertura da marcha.
A multidão também ouviu em silêncio respeitoso uma gravação de um
trecho do discurso de Lula em São Bernardo do Campo (SP) em 7 de abril
de 2018, o último antes de apresentar-se à Polícia Federal.
"Lula disse: 'eu vou andar pelas pernas de vocês, e falar pelas vozes
de vocês'. É isso o que está acontecendo aqui", afirmou o deputado
federal Paulo Pimenta (PT-RS), que participou do ato em Formosa. "Se o
Brasil nunca precisou tanto do Lula como agora, o Lula nunca precisou
tanto de vocês como hoje. É o Brasil inteiro que marcha a Brasília a
partir de hoje", completou.
Marinete Moreira, de 45 anos, é moradora de Formosa e foi à praça
acompanhar a mobilização. Ela conta que se tornou uma empresária bem
sucedida da área de cosméticos durante os governos petistas, mas que,
após o golpe, passou por dificuldades e teve de fechar sua empresa.
"Durante os governos do Lula e da Dilma, eu investi, cresci, até viajei à
Europa, mas hoje, vou fechar. Tudo piorou depois do golpe. Quando a
economia desanda, as pessoas começam a ter de escolher entre a estética,
a 'pintura', e o arroz e feijão. Então senti muito cedo o impacto do
golpe e do empobrecimento das pessoas. Hoje em dia a gente vê muito
pedinte na rua, a violência aumentou", relata.
O produtor rural Jair Almeida da Silva, de 49 anos, veio de seu
assentamento em Camamum, na Bahia, para participar da marcha porque
também percebeu a volta da pobreza se acercando. "Eu trabalhava para os
outros, mas graças à reforma agrária, ao assentamento conquistado nos
tempos do Lula, hoje produzo na minha própria terra. Produzimos cacau,
cupuaçu, banana. Por isso temos de defender o Lula, ele está sendo
perseguido pelo que nós conquistamos", avalia.
Coluna Tereza de Benguela
As delegações da Amazônia e do centro-oeste do Brasil se reúnem em
Engenho das Lages (DF) e deram o nome à sua coluna de Tereza de
Benguela, liderança quilombola que atuou contra o sistema escravocrata
na região do atual estado do Mato Grosso.
O ato político de largada da Marcha Nacional Lula Livre nessa coluna
foi marcado por músicas e místicas a respeito da agricultura familiar e
da soberania popular na luta pela terra. Também estiveram presentes
comunidades indígenas e quilombolas, além de movimentos urbanos de rua.
"Todo mundo tem direito à terra, mas nós estamos pelejando para
conseguir um direito básico. Nessa Marcha, os pobres se reúnem para
curar suas feridas juntos, porque o rico não cura ferida de ninguém",
afirma Liomar Ferreira, 52, assentado em Formosa (GO).
Luiz Roberto, da direção estadual do MST em Rondônia, confirma que a
luta dos próximos dias é pela retomada da democracia e contra as
ilegalidades jurídicas e legislativas que permeiam o país. O dirigente
afirma que exigir Lula Livre é impedir a ampliação do golpe que atua
contra a classe trabalhadora.
"Nós queremos construir um Brasil diferente e por isso marchamos por
um projeto popular para o país. A classe trabalhadora é a única capaz de
mudar essa realidade. A reforma que nós queremos só pode ser popular",
finaliza.
Thainá Regina tem 15 anos e vive há 11 anos no assentamento Che
Guevara, no Mato Grosso do Sul. Ela destaca que o sofrimento e a
violência contra a população do campo escancaram a importância da luta
pela reforma agrária popular.
"O que me fez apaixonar pelo MST e por sua luta foi ver as injustiças
no campo. Com a conjuntura que vivemos hoje, na mídia, na política e na
sociedade, estar aqui é mostrar minha luta pelo meu povo e ir contra
aquilo que eu vejo todos os dias, na sociedade, na política e na mídia",
pontua.
Coluna Prestes
"Marchamos por Lula Livre e também para construir um projeto popular
para o Brasil e retomar a dignidade para o povo". Com essa fala do Setor
de Cultura do MST, em meio a músicas populares de resistência, começou o
ato da Coluna Prestes, que iniciou sua mobilização nesta sexta-feira na
cidade de Luziânia (GO).
Militantes sem-terra do Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina,
São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo, além de
delegações da Marcha das Mulheres Camponesas (MMC), Movimento dos
Atingidos por Barragens (MAB) e Levante Popular da Juventude estão
reunidos nesta coluna.
Marinalda da Aparecida Silva, do PT em Luziânia, saudou os marchantes
e relembrou a Marcha Popular pelo Brasil, de 1997, reforçando que
marchar é um importante instrumento de mobilização popular. "Nós agora
estamos lutando por uma causa muito justa, que é a liberdade do nosso
companheiro Luiz Inácio Lula da Silva, o melhor presidente que este país
já teve."
Com a palavra de ordem "Lula livre, Lula inocente", a Coluna Prestes
faz o lançamento da marcha com muita animação e música camponesa. Os
militantes lembraram a luta da Coluna Prestes, comandada por Luís Carlos
Prestes, o Cavaleiro da Esperança, um líder tenentista que organizou
uma grande marcha entre 1924 e 1927 contra o coronelismo que andou 25
mil km pelo interior do Brasil.
Além de exigir a liberdade imediata de Lula, a coluna reforçou que o
MST marcha pela reforma agrária, igualdade de gênero e contra as
retirada de direitos protagonizada por Temer.
Ênio Bohnenberger, da Direção Nacional do MST por Minas Gerais,
afirmou que o principal motivo da Marcha é a libertação de Lula, que se
une à luta histórica da classe trabalhadora. "Nós somos diferentes
daqueles coxinhas que aparecem a cada 30 anos para defender a direita, o
golpe. Nós estamos nas ruas todos os dias para defender os direitos da
classe trabalhadora e a soberania do povo brasileiro. Nós hoje
caminhamos, porque precisamos derrubar um golpe, que foi dado contra a
democracia", afirmou.
Com críticas ao papel que a mídia empresarial desempenha no golpe, o
dirigente mostrou o posicionamento do MST. "No Brasil que nós queremos
não vamos ouvir da Rede Globo. O Brasil que nós queremos nós mesmos que
vamos construir, lutando, em marcha. Estamos fazendo o que sempre
fizemos, lutar todo dia, incansavelmente", disse.
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