BRASÍLIA (Reuters) - A presidente afastada Dilma
Rousseff reconheceu nesta quinta-feira erros nos campos político e
econômico cometidos à frente da Presidência da República, e afirmou que
irá se defender dos processos contra ela na Justiça e no Senado.
"Posso dar dois exemplos", disse Dilma em entrevista a agências
internacionais, ao ser questionada a que erros se referia em carta
divulgada na terça-feira. "O político é que visivelmente eu errei na
escolha do meu vice-presidente... isso é óbvio."
"E acho que todo o processo que fizemos de redução de imposto
beneficiando o setor empresarial não resultou em ganhos para o conjunto
da economia", disse em entrevista a agências internacionais no Palácio
da Alvorada.
A poucos dias do embate final que decidirá se continua na Presidência
ou se será condenada por crimes de responsabilidade e ficará 8 anos
inelegível, Dilma confirmou que irá ao Senado no dia 29, quando será
interrogada por senadores, pela acusação e por sua defesa, além do
presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski. O
Senado deve iniciar o julgamento final no dia 25, mas a previsão é que a
presidente afastada compareça no dia 29.
Ainda que considere um golpe todo o processo que vem sofrendo, a
petista garantiu que participará de todas as etapas e oportunidades para
discutir, justamente para "oxigenar" e "ampliar" a democracia.
"Seria um equívoco monumental entregar a democracia como campo de
debate para outro, para os golpistas", defendeu a presidente, vestida
com uma blusa vermelha. "Supor que eu não possa ir, que eu não possa
falar e dar a eles o monopólio dos espaços democráticos? A troco de que
eu vou fazer isso?"
ÁRVORE DA DEMOCRACIA
Ao distinguir o processo atual de um golpe militar como o ocorrido em
1964, Dilma fez uma analogia comparando a democracia a uma árvore.
"No caso deste aqui, que a literatura chama de golpe parlamentar, não
é como um machado que corta a árvore da democracia", disse. "É como se
parasitas e fungos a infestassem."
A presidente afastada aproveitou para criticar novamente as gravações
telefônicas entre ela e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que
originaram o inquérito autorizado nesta semana pelo Supremo Tribunal
Federal (STF) e afirmou que em "nenhum país do mundo" pode-se gravar um
presidente da República sem autorização.
"Eu vou me defender", disse sobre a investigação, afirmando que caso o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ganhasse o status de ministro
não deixaria de ser investigado, uma vez que estaria sujeito ao STF.
Embora tenha afirmado que encara com "naturalidade" a abertura do
inquérito, a petista acusa a utilização de vazamentos como instrumento
político, tendo como alvo o PT.
Sobre seu partido, de quem garante, não faltou apoio, Dilma o
classifica como alvo de criminalização e de tentativas de aniquilação.
Afirmou enfaticamente, no entanto, que a sigla saberá "superar"
problemas.
"Não há hipótese de o PT desaparecer, porque ele tem uma forte
implantação na realidade política brasileira", disse. "Agora não
significa... que ele não tenha de sempre estar atento à realidade para
tomar posições, para tirar ensinamentos, para ampliar rumos."
Ao defender a legenda, a presidente afastada afirmou que graças aos
governos do partido foi constituída uma estrutura de investigação e
combate à corrupção e que não se pode confundir a Lava Jato com o PT.
Dilma disse ainda "que não é possível tapar o sol com a peneira"
sobre a situação política do país, razão pela qual defende a realização
de um plebiscito sobre antecipação das eleições e sobre uma ampla
reforma política.
O desfecho do impeachment, afirma a presidente, caso seja como ela
diz pela "condenação de um inocente", servirá para levar ao poder, por
eleição indireta, "um programa que não passaria pelas urnas".
"Não tem como... se quiserem pacto democrático, ele é baseado no voto popular", afirmou.
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