A página do evento no Facebook já anunciava um ato de
grandes dimensões. Em menos de 24 horas, cerca de seis mil pessoas
confirmaram presença no ato contra o golpe que começou a se concentrar a
partir das 18 horas, na Esquina Democrática, no centro de Porto Alegre.
Alguns minutos depois do horário marcado para o início da concentração,
os primeiros gritos de “Fora Temer!” começaram a ecoar no centro da
capital gaúcha. Em poucos minutos, centenas de pessoas começaram a se
reunir na Esquina Democrática. A chuva, que prejudicou o ato chamado
para o dia anterior, cessou e o céu chegou a exibir alguns minutos de
sol no final da tarde de quarta-feira em Porto Alegre. Os gritos de
“Fora Temer” se alternaram com os “Golpistas, fascistas, não passarão” e
“Dilma guerreira, mulher brasileira”. Mas o grito mais repetido, desde o
início do ato, foi mesmo o “Fora Temer”.
A concentração inicial foi marcada pelo enterro da
democracia. Um caixão coberto de velas foi velado por um grupo de
manifestantes no centro de Porto Alegre. E o ambiente foi de velório
mesmo. Dezenas de pessoas cercaram o caixão depositado na Esquina
Democrática em um clima de silêncio e gravidade que durou alguns
minutos. O clima para o ato foi esquentando com a chegada de vários
grupos de coletivos e organizações que, desde o primeiro semestre vem
participando das manifestações de rua em Porto Alegre: Levante Popular
da Juventude, Juventude do PT, União da Juventude Socialista (UJS),
coletivos Kizomba e Mudança, do PT, União Nacional de Estudantes (UNE),
União Brasileira de Estudantes Secundaristas (Ubes), entre outros
grupos, deram a dinâmica da manifestação que, pouco depois das 19 horas,
saiu em caminhada pela Borges de Medeiros, pegando a Salgado Filho e
depois a João Pessoa, aos gritos de “Olê, olê, olê, fora Temer”.
O papel da Rede Globo e da RBS no processo de derrubada da
presidenta Dilma Rousseff também foi lembrado pelos milhares e
manifestantes que ocuparam praticamente toda a avenida João Pessoa,
desde o viaduto na conjunção com a Salgado Filho até as proximidades da
Venâncio Aires. O clima era de muita indignação com os acontecimentos
dos últimos dias no Senado. “Temer, ladrão, teu lugar é na prisão” foi
uma das palavras de ordem mais repetidas pelos manifestantes, um público
predominantemente muito jovem, com uma faixa etária média em torno de
22 anos, e com muitos estudantes secundaristas que participaram do
movimento de ocupação das escolas no primeiro semestre.
Na descida da João Pessoa, os manifestantes passaram por
um efetivo numeroso do Batalhão de Operações Especiais da Brigada
Militar, postado sob às arvores do Parque da Redenção, ao longo da
avenida. Um pouco antes da Venâncio Aires, a manifestação fez uma parada
em frente à sede do PMDB, onde o caixão velado na Esquina Democrática
foi colocado no meio da rua e incendiado em forma de protesto contra a
violação da democracia no país. Logo em seguida, alguns manifestantes
passaram a tentar derrubar uma grade de acesso à sede do PMDB,
denunciando o protagonismo do partido de Michel Temer, do governador
José Ivo Sartori e do vice-prefeito Sebastiao Melo, no processo de
derrubada de Dilma Rousseff. A grade foi finalmente derrubada e um
container que estava na calçada foi lançado dentro da sede do PMDB aos
gritos de “lixo, lixo”.
Neste momento, a Brigada Militar começou a disparar bombas
de gás da Redenção em direção a João Pessoa, em frente à sede do PMDB,
com o objetivo de dividir a coluna de manifestantes que, aquela altura,
somava alguns milhares de pessoas. Conseguiu provisoriamente seu
objetivo, fazendo com que algumas centenas de manifestantes corressem
para a Lima Silva, na Cidade Baixa. Mas, logo, em seguida, o grupo se
reagrupou e seguiu em direção à avenida Ipiranga e de lá para a frente
do prédio da RBS, onde ocorreu o confronto mais sério com a Brigada
Militar. A uma quadra do prédio da Zero Hora, cerca de dez viaturas da
polícia militar correram para a frente da RBS com as sirenes ligadas.
Logo, um destacamento do pelotão de choque se posicionou em frente ao
prédio. Um grupo de manifestantes começou a queimar pneus na avenida
Ipiranga, do lado oposto ao do prédio de ZH. Os brigadianos começaram a
lançar bombas de gás e balas de borracha que atingiram as costas de uma
manifestantes que ficou cerca de 20 minutos deitado no piso da avenida
Érico Veríssimo até se recuperar dos ferimentos e conseguir voltar a
andar.
Após um período de muita correria e asfixia provocada
pelas bombas de gás, a manifestação se reagrupou na Érico Veríssimo e
seguiu em direção à Cidade Baixa. O restante do trajeto foi tranquilo e
recebeu muitos apoios de moradores e frequentadores de bares da região.
Na esquina da República com a José do Patrocínio, um letreiro luminoso
com os dizeres “Fora Temer!” foi exibido na lateral de um prédio. Por
volta das 21h30min, a manifestação chegou à Perimetral, ao lado do Largo
Zumbi dos Palmares, onde ocorreu uma rápida reunião transmitida boca a
boca para todos os participantes.
“Hoje, mostramos ao PMDB que não vai ter arrego para
golpistas e, para a Brigada Militar, que não temos medo. Nós não vamos
sair das ruas”, disseram os organizadores da manifestação que convidaram
para uma assembleia popular que ocorrerá neste domingo, às 16 horas, na
sede do Centro de Professores do Estado do Rio Grande do Sul (CPERS
Sindicato). Essa assembleia definirá os próximos passos o movimento que
promete intensificar as mobilizações de rua “contra o golpe e o governo
ilegítimo de Michel Temer”. O escracho promovido em frente à sede do
PMDB evidenciou que o resultado do processo de impeachment no Congresso
Nacional provocou uma fratura na sociedade que, dificilmente, será
resolvida pelas bombas de gás e balas de borracha da polícia militar.
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