Tenho lido por aí que as delações da Odebrecht e a lista de Janot são
um horror mas são portadoras de esperança. Horror porque revelam que
toda a elite política, desde sempre, foi alugada por empresários. Que a
corrupção é uma prática geral e antiga e não foi inventada pelo PT.
Mas, dizem editoriais e colunas, o mar de lama traz a esperança de
mudança na cultura e nas práticas políticas, elevando a qualidade da
nossa democracia um tanto fake. Quando os políticos e as eleições eram
comprados, temos um simulacro de democracia. Contra estas ilusões, é
preciso atentar para as consequências da lista de Janot. Segundo os
melhores conhecedores do STF, nenhum dos nomes listados, se denunciado,
será julgado antes de quatro anos.
Não é a condenação ou a prisão dos envolvidos que produzirás
mudanças no sistema político, claro. O que move uma sociedade é a
consciência de seu povo, e o nosso está sentindo a ficha cair. O golpe,
agora está bem claro, foi mesmo uma tentativa de salvar toda esta gente
que agora pode ser investigada. E todos são iguais perante a corrupção e
o caixa dois. Mas quem promove as mudanças formais no sistema são seus
agentes políticos. A turma da lista. E a turma, por ora, continuará em
seus postos, dando as cartas, sabedora de que no STF os processos vão
andar com a lentidão dos cágados. Vão aprovar uma reforma política de
emergência e vão fixar regras para a eleição do ano que vem. Vão
anistiar-se do caixa dois. E, se o povo não impedir, vão se eleger e se
reeleger no ano que vem.
Quando o Supremo julgar a lista de Janot, já terá havido o rodízio de
sempre nas elites. Os que agora caíram nos maus lençóis da Lava Jato
vão colocar filhos e aliados em seus lugares, seja no Congresso, seja
nos governos estaduais. E a vida seguirá. Teremos a ilusão de que tudo
mudou. Mudou para que tudo possa continuar sendo o que sempre foi.
Para não parecer ceticismo diante da lista de Janot, recordemos os passos que agora serão dados.
- O ministro Fachin autorizará os pedidos de investigação solicitados. Todos, alguns ou quase todos.
- Os que forem investigados, depois de seis a oito meses poderão ser indiciados.
- Mais um semestre se passará para que sejam denunciados.
- O STF não tem prazo para acolher ou rejeitar a denúncia. Costuma levar até dois anos.
- Os que forem denunciados vão se tornar réus, e só nesta condição ficarão proibidos de disputar eleições e de ocupar alguns postos. O STF pode levar pelo menos mais um ano para isso.
- Finalmente, virá o julgamento. Terão se passado pelo menos quatro anos. Alguns poderão ser condenados. Será uma para o indivíduo, o agente político mas seu lugar no sistema já terá sido ocupado por outro da mesma classe, com os mesmos interesses. Pode não ser este o desfecho mas este depende de outro agente, o povo. As manifestações de ontem sugerem que a indignação letárgica começou a ser trocada pelas mobilização.
0 Comments:
Postar um comentário