O esforço de Michel Temer e seus aliados para impedir o avanço do
julgamento no TSE se explica por um cálculo evidente. Em posição
insustentável, a cassação dos direitos políticos de Temer abre o debate
sobre a escolha do novo presidente, aquele que irá governar o país até
2018.
Em condições normais, não haveria o que discutir fora da regra
constitucional, que determina a escolha pelo Congresso, em voto
indireto, no prazo de 90 dias.
Mas o país não vive um período de normalidade desde o afastamento de
Dilma sem crime de responsabilidade configurado. Desde o 15 de março de
2017, os brasileiros e brasileiras demonstraram, na rua, que estão
mobilizados para defender seus direitos.
Apresenta-se, então, a situação que os aliados de Temer temem, mas
que a população deseja com clareza e simplicidade: a brecha política que
pode abrir caminho para um movimento por diretas agora, contra um
golpe dentro do golpe.
É esta a possibilidade aberta pelo julgamento no TSE.
Caso o julgamento determine o afastamento de Temer, será o início do
desmonte da articulação que produziu o golpe parlamentar e, sem
consultar ninguém a não ser seus próprios patrões ideológicos, deu
início a uma ofensiva contra direitos e conquistas que a maioria condena
sem rodeios.
A coalizão golpista, que já perdeu vários alicerces desde a posse,
estará esfrangalhada -- antes que o novo presidente venha ser
escolhido.
Cientes do risco a ser enfrentado quando o povo se coloca na rua -- é
bom não esquecer da greve geral marcada para 28 de abril, numa
mobilização que está longe dos protestos importantes, mas sem maiores
consequências políticas, de nosso passado -- os aliados de Temer tudo
farão para embaralhar o julgamento, atrasar uma decisão e ganhar tempo. O
esforço será concentrado nos pedidos de vista, destinados a fugir da
discussão e evitar um debate sobre o mérito das denúncias contra Temer.
É sua maior esperança -- mesmo assim, um esforço precário, que irá
corroer a credibilidade que Temer ainda desfruta junto a seus aliados
mais fiéis, socialmente insignificantes, mas poderosos do ponto de vista
econômico e político.
A manobra infantil de tentar separar a chapa, iniciativa escabrosa,
quando se recorda a jurisprudência firmada em casos semelhantes,
confirmada na ação que pediu a impugnação da chapa Dilma-Temer em
dezembro de 2014 e a posse de Aécio Neves, perde credibilidade mesmo
entre aliados do governo na mídia amiga. Compreende-se.
Depois de denunciar "doações feitas em decorrência de benesses ou de
abstenção de criar entraves por parte dos agentes da empresa estatal," o
advogado do PSDB, Eduardo Alckmin, escreveu que a "eleição presidencial
de 2014, das mais acirradas de todos os tempos, revelou-se manchada de
forma indelével pelo abuso de poder, tanto político quanto econômico,
praticado em proveito de Dilma e Michel." Está lá, para não haver
dúvidas -- que também foram dissipadas pelos depoimentos e delações
recentes.
A mesma corte que encaminha a convicção para condenar Dilma -- como
se todos as acusações estivessem comprovadas acima de qualquer dúvida --
não pode alterar suas convicções e mudar de caminho no caso de Temer.
Recorde seletivo, nem o mensalão PSDB-MG chegou a tamanho disparate.
Apenas profissionais cotidianamente empenhados em procurar opções
favoráveis a Temer conseguem cogitar uma acrobacia especial. Ser cassado
no TSE, preservar os direitos políticos -- como aconteceu com Dilma no
Senado -- e ele poderia ser eleito como presidente pelo Congresso. Fácil
de imaginar, difícil de fazer -- em qualquer circunstância. Ainda mais
com o povo na rua e reprovação recorde. Imagine o que iria acontecer no
país.
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