Dilma Rousseff, presidente deposta no golpe de 2016, concedeu uma longa entrevista à colunista Mônica Bergamo em que atacou a principal estratégia de defesa de Michel Temer, afirmando que é impossível dividir as contas da campanha.
"E como o Temer não tem nada a ver com isso? Na campanha,
ele arrecadou R$ 20 milhões de um total de R$ 350 milhões. Nós pagamos
integralmente todas as despesas dele. Jatinhos, salários de assessores,
advogados, hotéis, material gráfico, inserções na TV. Separar essa conta
só tem uma explicação: dar tempo para ele entregar o resto do serviço
que ficou de entregar: reforma da Previdência e desregulamentação
econômica brutal."
Dilma criticou duramente o uso das delações do empresário
Marcelo Odebrecht como indícios de corrupção no julgamento que pode
cassar a chapa presidencial vitoriosa em 2014.
"Eu fico estarrecida, primeiro, com o cerceamento de defesa
do qual estou sendo vítima. [Marcelo Odebrecht] está fazendo delação de
acordo com seus interesses. Portanto, tudo o que ele diz pode servir de
indício para investigar, mas não para condenar. O STF [Supremo Tribunal
Federal, que homologou a delação do empreiteiro] nem abriu investigação
[criminal] ainda. É estarrecedor que um procurador use como prova o que
não é prova.
(...)
Olha, eu tenho a impressão de que o senhor Marcelo Odebrecht
sofreu muitos tipos de pressão. Muitos tipos de pressão. Por isso, não
venham com delaçãozinha de uma pessoa que foi submetida a uma variante
de tortura, minha filha. Ou melhor, de coação.
Ele nunca teve essa proximidade comigo [para tratar de verba de campanha]. Da minha parte sempre houve uma imensa desconfiança dele."
Ele nunca teve essa proximidade comigo [para tratar de verba de campanha]. Da minha parte sempre houve uma imensa desconfiança dele."
Na opinião de Dilma, Marcelo Odebrecht nunca a perdoou por
ela ter impedido um esquema de corrupção nas hidrelétricas do rio
Madeira, em Rondônia.
"Eu era ministra-chefe da Casa Civil em 2007 e
supervisionava os grandes projetos do governo como as usinas do complexo
do rio Madeira, Santo Antônio e Jirau. E um empresário começou a dizer
que estava muito difícil participar do leilão porque havia uma espécie
de cartel organizado pelo senhor Marcelo Odebrecht. Eu fui averiguar. E
havia um processo de cartelização. Chamada a direção de Furnas [que
participou do consórcio], isso foi imediatamente resolvido. Mas não é
só. O leilão já estava marcado e ele disse em vários locais que ninguém
faria lance se o preço mínimo da energia não ficasse em R$ 130.
Decidimos não adiar. E a própria Odebrecht ganhou por R$ 78,87.
Faça as contas e veja a diferença de margem de lucro [que a Odebrecht deixou de ganhar]. Ele nunca deve ter me perdoado."
Questionada se vai se candidatar novamente, a petista diz não ter esse desejo, mas que isso pode acontecer:
"Eu não quero. Mas posso até ser. Me casse que eu vou passar
o tempo inteiro lutando [na Justiça] para não ser cassada e ser
candidata".
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